21.7.08

Ciganos da Quinta da Fonte dizem que não regressam, autoridades reafirmam que não há outra solução

Clara Viana, in Jornal Público

O braço-de-ferro manteve-se depois de uma incursão dos fugitivos no bairro. Na Quinta da Fonte, a crispação é evidente

Versões contraditórias, impasse quase total, exaustão. No quarto dia ao relento, no jardim fronteiro à Câmara de Loures (antes tinham estado alojados num pavilhão desportivo), o porta-voz das agora cerca de 40 famílias ciganas - começaram por ser 53, mas entretanto algumas foram desistindo e partindo para outras paragens - que há mais de dez dias fugiram da Quinta da Fonte depois de confrontos com elementos da comunidade africana reafirmou a posição de sempre, embora com mais veemência: o regresso "está fora de questão", anunciou José Fernandes. De manhã, durante uma visita à Cova da Moura, na Amadora, o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, interpelado pelos jornalistas, indicara que nas últimas horas tinha havido mostras de maior flexibilidade e afirmou-se convicto de estarem reunidas as condições para, dentro em breve, poderem regressar ao bairro: "Quando digo dentro em breve, espero que entre hoje e segunda-feira a situação evolua."

Pouco depois, ao princípio da tarde, os homens das famílias que fugiram (as mulheres ficaram a aguardar em Loures) foram à Quinta da Fonte, sob escolta policial, para avaliar a situação no terreno. Já depois de saírem, o ambiente era este: polícias armados, grupos expectantes de africanos a observar, um ambiente crispado. "Fomos ao bairro para o senhor ministro não pensar que só queríamos sair de lá", esclarece Fernandes. Mas aquilo que encontraram, acrescenta, veio confirmar que o regresso é impossível. Para além das oito habitações vandalizadas que foram recenseadas sexta-feira pela Câmara de Loures, encontraram mais 34 nesta situação, disse. Esta versão é contrariada pelo representante do Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural, que tem funcionado como mediador entre a comunidade e o Governo Civil de Lisboa.

Luís Pascoal, que acompanhou os ciganos na incursão, disse ao PÚBLICO: "A maioria das casas das pessoas que estão frente à Câmara de Loures está em condições." Este responsável acrescentou que muitas das habitações que encontraram vandalizadas "estavam já desocupadas há bastante tempo", em resultado de outras situações infelizes vividas no bairro.

Existem condições de segurança para o regresso da maioria das famílias, garantiu. Jorge Andrew, chefe de gabinete da governadora civil de Lisboa, subscreve e acrescenta: "Não vai haver novas casas para atribuir."Isso mesmo voltou a ser reafirmado pelo vereador da Habitação na Câmara de Loures, João Pedro Domingues.

O autarca também repetiu que a câmara não irá além de providenciar o arranjo das oito habitações, o qual, indicou, deverá ascender a 120 mil euros, e remeteu tudo o resto para a administração central.Visivelmente exausta, como quase todos os outros, uma das ciganas que se mantém frente à autarquia resumia assim o que sente sobre as condições para o regresso: "Acha que posso ter um polícia ao meu lado em cada segundo da minha vida?"