17.9.08

Consciências sociais

João Soalheiro, in Agência Ecclesia

O semanário "Agência Ecclesia" dedica o dossier deste número às preocupações e às esperanças que molduram a Pastoral Social da Igreja Católica, tendo por pano de fundo os trabalhos do "I Congresso da Pastoral Social". O evento justifica todas as atenções, também pelo percurso de vinte e cinco anos de reflexão ("Semana(s) da Pastoral Social", iniciativa lançada em 1983) dedicada ao empenhamento dos católicos, através de diferentes instituições, na construção de uma sociedade genuinamente mais fraterna. Como sempre acontece quando estão em causa valores nucleares - e o da dignidade da pessoa é-o definitivamente - a satisfação do conseguido não escapa ao peso dos diagnósticos. Será que a consciência social, venha de onde vier, nasceu para falhar?

Tendo um objecto delicado, feito de carne e osso, impassível, apesar de algumas pretensões desresponsabilizantes, de ser reduzido a números, ou de ser acantonado numa qualquer estatística, os agentes da Pastoral Social da Igreja sabem que a sua vocação são as pessoas concretas, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos cujo limiar da dignidade é demasiadas vezes abalroado por egoísmos individuais e colectivos - que são nossos, protagonizados por nós ou com a nossa cobarde e muda complacência -, verdadeiras máquinas produtoras não apenas de exclusão, mas de reiterada e continuada exclusão, de maldita e infernal exclusão.

À vista da enormidade dos problemas a enfrentar, aliás cada dia renovados, são muitos os que perguntam se não estarão, porventura, esgotados alguns dos modelos de intervenção que caracterizam a Pastoral Social. Numa linha matricial que se reivindica de cristã, não importaria menos saber até que ponto as instituições e movimentos vocacionados para intervir junto dos excluídos avultam, ou não, como agentes de inclusão, de regeneração da esperança, lá onde a mesma já conheceu demasiados ocasos, que ninguém pode desejar ou permitir se transformem em definitivos. Seja como for, a Pastoral Social não vive, por certo, apenas da capacidade organizativa das instituições eclesiais. Há um registo de entrega ao outro que só pode ser protagonizado por cada um de nós, antes mesmo que se revele comunitário. De facto, mais do que uma consciência social urge dar corpo a consciências sociais, despertas para se fazerem próximas de quantos, na nossa sociedade, são relegados para margens indizíveis.