31.12.08

2009: Igreja quer combate à pobreza no topo das prioridades

Octávio Carmo, in Agência Ecclesia

Responsáveis pela acção social católica esperam soluções para evitar uma situação de instabilidade


O combate à pobreza está no topo das prioridades apontadas pela Igreja para o ano de 2009. Vários responsáveis pela acção social católica esperam soluções para evitar uma situação de instabilidade.

D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal responsável pela área social, refere em texto escrito para a Agência ECCLESIA que face ao actual cenário de crise “não poderemos estranhar fenómenos de guerrilha urbana que aqui e acolá já rebentam”.

O novo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, diz em entrevista ao Programa ECCLESIA que “entre os pobres estão a surgir grupos que nunca foram pobres, e por isso, a pobreza surge para este grupo como um factor de instabilidade emocional e psicológica que é propícia a actos violentos”.

Para D. Carlos Azevedo, “o combate à pobreza, na sua complexidade, tem merecido da nossa Comissão Nacional Justiça e Paz uma reflexão profunda, lúcida e capaz de escutar os pobres. A defesa do direito a não ser pobre, como fazendo parte dos direitos humanos, foi um avanço. A ideia necessita de lavrar as mentes para crescer nas decisões políticas e nos gestos dos cidadãos”.

O Pe. Agostinho Jardim Moreira, Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, considera que “é fundamental reconhecermos que na origem de muito insucesso no combate à pobreza estão políticas vincadamente assistencialistas e que em nada contribuem para a sua erradicação”. Por isso, assinala, é “estratégico investir na formação das pessoas para que estas sejam capazes de, por iniciativa própria, resolver os seus problemas”.

Já o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, lembra a mensagem do Papa para p Dia Mundial da Paz 2009 (1 de Janeiro), dedicada este ano ao tema “Combater a Pobreza, construir a paz”.

“A Cáritas revê-se, por inteiro, nas preocupações de Bento XVI e está em plena sintonia com as suas recomendações. Com efeito, desde a segunda metade dos anos setenta do século passado, que a Cáritas tem vindo a esforçar-se por não reduzir a sua acção a actividades que a arrastem para práticas meramente assistencialistas, procurando investir, como pede o Santo Padre, na formação das pessoas e no desenvolvimento, de forma integrada, de uma cultura que valorize mais a iniciativa dos destinatários”, aponta.

João José Fernandes, Director geral executivo da Oikos, considera que “a mensagem do Papa suscita alguns desafios muito válidos para todos e cada um de nós, a saber: cooperação internacional; a necessidade de uma acção política que permita uma regulação económica e jurídica dos mercados financeiros e do comércio internacional; as sinergias entre Sector Privado, Sociedade Civil (Terceiro Sector) e Estados”.

José Dias da Silva, Membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, considera que “só com uma forte e empenhada intervenção da sociedade civil será possível uma adequada integração a que os programas institucionais de ajuda dificilmente conduzem”.

Na mesma linha, o Pe. Lino Maia, Presidente da CNIS, lembra que “com iniciativas preventivas ou de minoração e com uma multiplicidade de respostas sociais, entre nós o combate à pobreza tem encontrado nas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) um precioso e determinado contributo”.

“Os pobres têm um elevado nível de privação. Um pobre não é livre e a pobreza configura uma situação de negação de direitos fundamentais. Combatê-la responsavelmente é construir a paz e é uma tarefa que terá de envolver toda a comunidade, com as suas instituições artísticas, culturais, desportivas, políticas, recreativas, religiosas e sociais”, assinala.