16.12.08

“As famílias endividadas são os novos pobres”

Manuela Teixeira, in Correio da Manhã

Pobreza Padre José Maia comenta a última estatística


Correio da Manhã – O risco de pobreza mantém-se nos 18%. Considera um número real?

Padre José Maia – O problema está nas desigualdades sociais. É um processo de empobrecimento e temos agora um novo factor que criou os novos pobres, as famílias endividadas. São da classe média, têm trabalho mas estão muito endividadas. Esses portugueses não contam nem aparecem nos números das estatísticas nacionais, nem europeias.

– E quais são os outros factores?

– Os baixos salários ou o abismo entre os pequenos e altos salários. Nunca percebi como é que a vizinha Espanha, que agora apresenta uma taxa de desemprego muito superior à nossa, tem um salário mínimo nacional que é mais do dobro. Em Portugal a riqueza produzida é sempre mal repartida e isso causa injustiças sociais. Depois há o fenómeno da exclusão social, para o qual não há medidas adequadas.

– A que medidas se refere?

– Os governos não aplicam medidas para reverter as situações. Optam por medidas paliativas, que não resolvem o problema, apenas o sustentam. Os subsídios não são a solução.

– E qual seria a solução no seu entender?

– Os governantes e responsáveis por esta matéria têm que ouvir os parceiros sociais, que trabalham todos os dias com a problemática da pobreza e da exclusão social. No tempo do governo Guterres, ouviam os parceiros sociais e foi a partir daí que se perdeu o complexo de que havia pobres em Portugal. Nessa altura, os números estatísticos do risco de pobreza andavam nos 21 por cento. Começaram a baixar desde que se enfrentou o problema com medidas concretas.

– Mas os números não diminuíram muito?

– Como disse, os salários não acompanham o custo de vida e agora há outros novos pobres, os das famílias endividadas.