29.12.08

Aumenta o número de crentes no Pai Natal

Carlos Mesquita, in Semanário Transmontano

O Pai Natal quando chega é para todos, os presentes é que não. O valor das prendas também é diferente e recebe mais quem melhor insistir na pedincha.

Este ano o Pai Natal não vai embora, fica a pedido de vários meninos que acham insuficientes as prendas recebidas; ainda por cima há quem não tenha recebido nada, e outros que andam a comparar os presentes dos filhos dos ricos com os dos filhos dos pobres. É a denominada crise social. Depois da crise financeira, da crise de confiança e da crise económica teríamos a crise social. Teríamos, digo eu, se não confiássemos no Pai Natal, ou se a criatura se limitasse a trazer a ilusão aos mais pequenos na noite da consoada, e depois partisse para a Lapónia. Veio para ficar, a acreditar nos pedidos dos bancos, nos “depositantes” em fundos de investimento, nas PMEs falidas, nas famílias que têm mais bens que dinheiro para os pagar; enfim, em todos aqueles que ouvem a crise como uma trovoada e estão cépticos de que seja com água benta que se livram da tormenta, como rezam as preces a Sta. Bárbara. Antes o Pai Natal.

O Pai Natal quando chega é para todos, os presentes é que não. O valor das prendas também é diferente e recebe mais quem melhor insistir na pedincha. Dos Pais Natal endinheirados o governo é quem mais dá, porque não lhe custou a ganhar, e recebe em troca a possibilidade de manter a profissão de Pai Natal por mais anos. Como é natural oferece a quem vota nele para continuar a ser o Pai Natal. É com a ameaça de que não o elege que muito menino consegue presentes que nem pediu, e depois ainda faz mais birras a dizer que a oferta é escassa: Anda por aí o psicólogo espanhol Javier Urra, a dizer que não é assim que se criam os catraios, mas o que sabe um psicólogo de marketing político?

Os partidos também acreditam no Pai Natal e fizeram-lhe pedidos a entregar a partir de 1 de Janeiro de 2009. O PC pediu que os portugueses “um dia” o metam no poder e os Verdes que continuem na CDU sem que se note que são a mesma coisa, pedidos fáceis. Os Bloquistas pedem que em vez de terem uma bancada parlamentar de suplentes, o Pai Natal lhes traga um banco suficiente para fazer uma equipa completa, também de suplentes, e um candidato próprio para qualquer coisa, o Pai Natal está a tentar perceber o pedido. O PSD enviou uma reclamação à secretaria dos Pais Natal a protestar que em vez dum verdadeiro Pai Natal lhe enviaram um impostor que dá pelo nome de Pacheco Pereira, que virou o saco com a seta para baixo e partiu os brinquedos todos, os cachopos estão num berreiro. No PP a situação não é melhor, já há miúdos que fugiram de casa porque o Paulo Portas ficou com todos os jogos; ele defende-se que só arrecadou 95% que é a sua votação. No PS dizem que não querem nada para eles, pedem que os pedidos de prendas acabem antes do saco estar vazio, e que possam partir e repartir com maioria absoluta, e sem o Tribunal de Contas a meter o bedelho.

Para quem não acredita no Pai Natal um olhar menos fantasista para entrar em 2009.

Com o descrédito da Teologia Capitalista que transforma dinheiro em mais dinheiro sem passar pelo trabalho e pela valorização da mercadoria daí resultante, anda muita gente atrapalhada; crer em quê? As experiências socialistas ruíram antes da queda do muro de Berlim, quando os partidos dirigentes as transformaram em Capitalismo de Estado, um Estado selvagem, e pobreza; e o ensaio inverso de deixar o capitalismo evoluir naturalmente, criou o capitalismo selvagem, e pobreza. Para erradicar a pobreza e viver sem servilismo é preciso um sistema novo, é inevitável. Observando com optimismo, vemos que ninguém esperava que os ideais do liberalismo capitalista e o culto do fim das ideologias tombassem em tão curto espaço de tempo. As alterações processam-se a grande velocidade na economia global e nos equilíbrios geo-estratégicos e sociais; o Mundo, como o conhecemos, está a mudar. Nos últimos cem anos, um tempo irrisório na evolução social da nossa espécie, aprendemos muito, e rapidamente; já sabemos o que não funciona e porquê. Temos vantagem sobre os nossos antepassados, o que não nos livra de pagarmos o preço de vivermos neste momento histórico.

Fantasia por fantasia, cada um fique com o Pai Natal que merece. Bom Ano.