29.12.08

Banco de bens doados apoia 100 mil pessoas

Inês Cardoso, in Jornal de Notícias

Projecto nascido há um ano canaliza excedentes de produção e bens oferecidos por empresas


O princípio é simples e alia objectivos sociais e ambientais: canalizar para instituições de solidariedade excedentes de produção e equipamentos usados.

No primeiro ano de vida, o Banco de Bens Doados distribuiu quase um milhão de produtos.

Sedeado na Quinta do Cabrinha, em Lisboa, o banco tem cobertura nacional e relaciona-se com 420 instituições de solidariedade responsáveis por fazer chegar os bens a quem mais deles precisa - até agora cerca de 100 mil pessoas. O procedimento é em tudo similar ao do Banco Alimentar contra a Fome: não há entregas directas a particulares, a disponibilidade de mais de 40 voluntários é uma pedra basilar e a capacidade de resposta está dependente da adesão de empresas que queiram doar produtos.

Como o projecto foi lançado há pouco mais de um ano, o saldo é considerado "extraordinário" pela coordenadora do banco, Mariana Saraiva: a adesão "superou muito as expectativas". A lista de empresas doadoras foi crescendo e actualmente são mais de 200. Produtos de higiene pessoal e para a casa são os mais oferecidos (ver gráfico), seguindo-se vestuário, móveis e brinquedos ou livros. Na cauda da lista estão os electrodomésticos, que representaram, até final de Novembro, apenas 0,03% do total de bens.

Nalguns casos as doações resultam de excedentes de produção ou de produtos que por qualquer razão não podem ser comercializados, designadamente "por razões de marca, de embalagem ou de pequenos defeitos de fabrico".

Já no caso de equipamentos como mobiliário ou computadores são geralmente usados, mas em bom estado, evitando-se a sua "destruição prematura" - e chegamos ao anunciado objectivo de (também) contribuir para preservar o ambiente.

O projecto nasceu da verificação, graças à prática do Banco Alimentar, de que muitas empresas queriam doar bens não alimentares (ver caixa). "O Banco Alimentar era confrontado com muitos pedidos nesse sentido, mas juridicamente não lhe era permitido", explica Mariana Saraiva.

A opção por recorrer às instituições sociais como mediadoras, sem entrega directa a particulares, traduz várias preocupações. O banco começa por beneficiar do conhecimento que elas têm do terreno e do seu papel na distribuição, mas reconhece igualmente o peso que têm no acompanhamento das famílias. "Nós não teríamos capacidade para fazer esse acompanhamento e promover a inclusão social", sublinha Mariana Saraiva. "Não queremos fazer da pobreza uma profissão. O objectivo é promover a mudança".

Como a boa vontade não basta, quando recebe uma candidatura de uma instituição o Banco de Bens Doados faz uma visita e formaliza o acordo. Posteriormente passa a haver um trabalho constante de acompanhamento da sua actividade. Visitar as IPSS é precisamente uma das missões desenvolvidas pelos voluntários, mas há outras: vão desde a recepção e organização do armazém à preparação dos cabazes, passando também pela área administrativa.

Embora sejam privilegiadas as doações de empresas, a coordenadora do Banco explica que também os particulares podem colaborar. São considerados "produtos com utilidade social, desde que em bom estado, e equipamentos informáticos".