18.12.08

Bancos centrais já quase não podem baixar juros mas têm outras armas contra a crise

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Injectar liquidez na economia em grandes quantidades é uma possibilidade na mão dos bancos centrais. Mas traz consigo muitos riscos

As taxas de juro já estão próximas de zero, mas os bancos centrais ainda têm à sua disposição vários outros instrumentos para combater a contracção da economia mundial.
A decisão tomada na terça-feira pela Reserva Federal de colocar as suas taxas de referência num valor situado entre zero e 0,25 por cento, lançou a dúvida sobre se as autoridades monetárias, em particular a dos EUA, estava já, em acto de desespero, a colocar todos os trunfos disponíveis sobre a mesa. Efectivamente, colocar as taxas de juro nominais abaixo de zero é impossível e, se, como alguns temem, a taxa de inflação cair para valores negativos, as taxas de juro reais ficam mais altas do que o desejado.

No entanto, há outras formas de os bancos centrais injectarem liquidez nos mercados. Como diz o professor da Católica João César das Neves, "os bancos centrais podem fazer o que quiserem com a moeda, têm poder absoluto e precisam de o usar, precisamente nestas ocasiões". "Neste momento, os bancos centrais estão a esgotar as munições da artilharia ligeira, mas ainda têm a artilharia pesada e as armas atómicas."

Qual é então essa artilharia? Os bancos centrais podem começar a comprar obrigações do Tesouro ao Estado, não só ajudando o sector público a financiar os seus défices, como reduzindo as taxas de juro no longo prazo. Podem ainda emprestar directamente dinheiro às empresas ou comprando títulos de maior risco no mercado. Tudo isto em quantidades teoricamente ilimitadas, basta usar o poder de emitir dinheiro.

É isto que a Fed vai começar a fazer em força a partir de agora. E o BCE, mesmo não querendo colocar já as taxas de juro a zero, dá indicações de querer utilizar alguns destes instrumentos. Nos últimos meses, as medidas extraordinárias para injectar liquidez nos mercados foram frequente. Os activos no balanço do BCE - na maior parte empréstimos aos bancos - passaram de cerca de 1200 mil milhões de euros em Junho de 2007 para mais de 2000 mil milhões actualmente.

Não se pense, contudo, que estamos perante receitas infalíveis para evitar as recessões. Este poder de os bancos emitirem moeda e injectarem liquidez traz consigo muitos riscos. O principal, como afirma Martin Wolf no Financial Times, é o de os bancos centrais não saberem quando parar, arriscando um posterior descontrolo da inflação e mais situações de crise futuras. "Evitar a deflação é fácil, conseguir depois a estabilidade é que será bem mais difícil", afirma. O último prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, também não antevê quaisquer facilidades nesta nova fase da política monetária mundial, que considera muito semelhante à que viveu o Japão nos anos 90. "Para se sair deste problema vai ser precisa muita criatividade e, talvez, alguma sorte também."