17.12.08

Futuro do "S. João de Deus" ainda por definir

Hugo Silva, in Jornal de Notícias

Demolido último bloco do que foi o "pior bairro de Portugal". Terrenos ainda sem destino


O último dos 28 blocos do "S. João de Deus", no Porto, foi demolido esta terça-feira à tarde. A Câmara ainda não sabe o que fazer dos terrenos antes ocupados pelo bairro mais problemático da cidade, verdadeiro "supermercado de droga".

"Não há nenhum projecto", disse Rui Rio, presidente da Câmara do Porto. Os terrenos já chegaram a estar na lista de alienações a fazer pela Câmara do Porto, mas entretanto foram retirados. Não se sabe, portanto, o que será feito ali. "Tudo é hipótese", reiterou Rio, já depois das máquinas terem iniciado o processo de demolição do último bloco do bairro. O "S. João de Deus" resume-se, agora, às 144 habitações unifamiliares. Os blocos, que concentravam 562 fogos, foram arrasados, num processo que se desenrolou desde Março de 2003. Há mais de cinco anos.

"Que dinheiro tão bem gasto", congratulou-se Rui Rio. "Quando eu cheguei à Câmara do Porto era o pior bairro de Portugal, uma vez que o Casal Ventoso, em Lisboa, já tinha sofrido uma evolução", acrescentou. O "S. João de Deus" assemelhava-se a um conjunto de escombros, marcado pelo tráfico e consumo de droga, por problemas sociais, pela degradação, por lixo nas ruas e por seringas espalhadas pelo solo. Existia o "Vale dos Leprosos", onde se concentravam toxicodependentes, sendo que muitos morriam ali.

O processo de transformação do bairro começou em 2002, forçando a uma diminuição substancial do número de moradores. Com a demolição dos blocos, foram transferidas 430 famílias e despejadas outras 132. "Utilização da habitação para fins ilícitos, não habitação da casa ou posse de outra habitação" foram os motivos que, "essencialmente", estiveram na origem dos processos.

A escolha da data para proceder à demolição do último bloco do bairro não foi inocente: passavam exactamente sete anos desde o dia em Rui Rio ganhou a presidência da Câmara do Porto. O próprio autarca assinalou o facto, lembrando que a solução do problema do Bairro de S. João de Deus foi a sua "única promessa". Confissão: "Na altura [quando iniciou funções, em Janeiro de 2002], não sabia muito bem como".

"Era impossível uma cidade como o Porto ter uma coisa como o Bairro de S. João de Deus", insistiu o autarca, recordando que guarda na memória a imagem de uma casa com lixo até ao tecto. E de uma outra, com um buraco no chão, através do qual o lixo era mandado para o andar inferior.

Apesar do cenário nada ter a ver com aquilo que se passava há meia dúzia de anos, até porque grande parte do bairro está transformado num descampado, a cerimónia de ontem teve direito a numeroso aparato policial, como medida de prevenção.

No entanto, durante a passagem do presidente da Câmara pelo bairro, houve apenas, ao longe, um pequeno coro de protestos. Mais perto, a acompanhar o trabalho das máquinas, um outro conjunto de moradores mostrava-se agradado com a demolição e com a intervenção municipal no "S. João de Deus". É certo que a droga não desapareceu por completo - o próprio Rui Rio admite o facto -, mas a dimensão do problema não se compara com aquilo que acontecia há alguns anos.

"O bairro do Aleixo é actualmente o mais problemático da cidade, mas, mesmo assim, não tem comparação com o que aqui existia", observou Rui Rio.