30.12.08

Subsídio de Natal em risco em 10% das PME

Ana Tomás Ribeiro, Hernâni Pereira, in Diário de Notícias

Crise. Passar Dezembro sem subsídio de Natal é o que acontece a muitos trabalhadores. Sectores como a cerâmica e têxteis-lar são os mais afectados. Lisboa está menos mal


Os últimos dias de 2008 abrem más perspectivas para o ano que vem. Pelo menos para as empresas que chegaram ao final de Dezembro sem pagar subsídios de Natal aos seus trabalhadores. A PME-Portugal - que integra 6500 pequenos e médios empresários - estima que cerca de 10% dos seus associados não vão pagar o subsídio de Natal.

Segundo Paulo Peixoto, da direcção da PME-Portugal, este número "é seguro até agora [ontem], embora possa aumentar para cerca do dobro, porque muitas das empresas ainda estão neste momento a desenvolver esforços para pagar até ao início de Janeiro e, ao contrário, outras não vão pagar, mas não querem para já assumir essa situação".

Parte das empresas que ainda não tem a certeza se vai, ou não, pagar pertence ao sector do comércio. São as receitas dos saldos que podem fazer toda a diferença. Mas o sector mais afectado é, "sem dúvida, o da indústria, nomeadamente o das confecções, têxtil-lar, metalomecânica e cerâmicas", afirma Paulo Peixoto. Por seu turno, Manuel Freitas, da Fesete - Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles diz que as empresas que já não tinham pago o subsídio de férias dificilmente pagarão o de Natal. "Mas não são a maioria", assegura. A Fesete não fez ainda um levantamento da situação, porque até ao final do mês algumas das empresas ainda podem pagar o que devem. Segundo as estimativas do sindicalista, as que não vão pagar deverão representar 2% a 3% do total dos sectores abrangidos pela Fesete.

"No calçado e peles as coisas não vão mal", admite Manuel Freitas. O calçado, aliás, está em crescimento. Assim, os mais afectados por estes tipo de problemas são os do vestuário e têxtil lar. "Nestes é que as empresas estão a ter dificuldades e muitas já não pagaram os salários de Novembro", garante.

Por seu turno, a AIP-CE - Associação Industrial Portuguesa - Confederação Empresarial, afirma que "os sinais indicam que as PME vão ter muitas dificuldades em obter crédito". António Alfaiate, administrador executivo da AIP, diz que "a banca vai ser muito selectiva na concessão de dinheiro e irá privilegiar as empresas sólidas. Assim, as PME poderão ser as mais afectadas por estas medidas", estima.

A AIP não tem estimativas de quantas empresas poderão não pagar subsídio de Natal já este ano. "O certo é que estamos a ter inclusivamente algumas surpresas de empresas que até há pouco tempo eram casos de sucesso, como o da fabricante de calçado da marca Aerosoles, e que já estão a revelar dificuldades em pagar os subsídios de Natal", remata.

A poucos dias do final de Dezembro, a CGTP-Intersindical diz que "é tempo apenas de apelar a que o subsídio de Natal seja pago a todos os trabalhadores". Manuel Carvalho da Silva, coordenador da central sindical, disse ao DN que ainda não quer fazer um balanço. Mas afirma que, "salvo raríssimas excepções, não há justificação" para que o décimo terceiro mês não seja pago. "Sabemos que há um problema real na estrutura económica e nas empresas, mas outros são falsos, e servem apenas para deixar de cumprir obrigações salariais", acusa o sindicalista. "É tempo de apelar a que se cumpra o que é devido, até porque a maior parte das famílias portuguesas vive com pouco dinheiro, que é preciso, também, para dinamizar o consumo e a economia", afirma Carvalho da Silva. com M.A.C.