30.1.09

Crise pode adiar privatizações mais uma vez

João Paulo Madeira, in Jornal de Notícias

Governo não quer fazer "maus negócios" e só alienarácapital de empresas públicas no "momento oportuno"


No que toca a privatizações, o Governo não se compromete com datas. O ministro das Finanças não está interessado em fazer "maus negócios". O orçamento suplementar e o plano anticrise foram aprovados pela maioria PS.

O ministro das Finanças foi questionado, ontem, no debate parlamentar que antecedeu a votação do Orçamento suplementar e do plano anti-crise, sobre o calendário da privatização da ANA.

O plano de privatizações do Governo abrange a Galp, a Inapa, a TAP e a ANA. Esta última operação está ligada à construção do novo aeroporto em Alcochete, cujo concurso está previsto para este semestre, pelo que deveria avançar já este ano.

Teixeira dos Santos garantiu que o Governo "não desistiu" do projecto, mas que "está atento às condições do mercado" e que só lhe dará seguimento no "momento oportuno". O ministro lembrou que o Governo não realizou as privatizações que estavam previstas para 2008, devido à crise financeira, deixando subentendido que poderá acontecer o mesmo este ano, ao afirmar que "não está interessado em fazer um mau negócio" e que "acautelará os interesses do Estado".

Teixeira dos Santos aproveitou a ocasião para defender os grandes projectos de investimento do Governo, que incluem a terceira travessia do Tejo, a aeroporto e o TGV. O ministro considera que as críticas aos projectos que assentam no excessivo endividamento do país são uma "falsa questão". "O financiamento destes projectos não tem incidência expressiva no Orçamento para 2009, não vai causar dificuldades acrescidas", sustentou.

Antes, a Oposição havia criticado o plano de combate à crise, do Governo. À direita, a opção por aumentar o investimento em detrimento de redução de impostos mereceu os ataques mais fortes. Paulo Portas lembrou que outros países, como o Reino Unido, estão a fazer cortes fiscais, afirmando que "o Governo é tímido", neste campo.

Duarte Pacheco, do PSD, frisou que o aumento de despesa preconizado pelo Executivo vai ter "repercussão orçamental nos próximos anos" e que o seu partido preferiria uma descida de impostos. À esquerda, as baterias foram apontadas à falta de medidas para fazer face ao aumento do desemprego. Bernardino Soares, do PCP, afirmou que o Governo subestimou a taxa de desemprego para este ano, criticando a insuficiência de medidas para mitigar os efeitos da crise. Mariana Aiveca, do BE, acusou o Governo de "abandonar os jovens, os desempregados e os precários".

Na resposta, o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, também presente no debate, garantiu que o Governo tem actuado para responder à crise, acusando a Oposição de "alheamento da realidade do país".