29.1.09

Davos reconhece que barreiras proteccionistas são ameaça real

Ana Rita Faria, in Jornal Público

A recessão mundial dominou o primeiro dia do Fórum de Davos, trazendo
à tona receios de que arraste consigo uma onda de proteccionismo


Se do Fórum Económico Mundial, que começou hoje em Davos, na Suíça, saíssem medidas concretas, estas seriam certamente bem realistas, a julgar pelas previsões cautelosas, pelas severas advertências e pela visão pessimista sobre a dimensão da crise económica actual. Economistas, líderes empresariais e políticos foram unânimes em afirmar que 2009 vai ser um ano de recessão e que a crise não vai acabar tão cedo. Uma conjuntura que pode levar os governos a introduzir barreiras ao comércio e a concentrar os investimentos nas suas próprias economias.

O próprio primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, lançou ontem ao final da tarde em Davos um apelo para que o mundo evite o isolacionismo e o "egoísmo económico". Isto depois de uma manhã de reflexão sobre a nova era económica, que elegeu o proteccionismo como uma "ameaça real".

Era já de esperar que este tema fosse abordado no fórum de Davos - afinal, entre os seus mais de 2500 participantes de 96 países, predominam as economias ocidentais, adeptas do comércio livre. Contudo, o mais surpreendente foi que os maiores receios vieram precisamente das economias emergentes. O ministro das Finanças sul-africano, Trevor Manuel, garantiu que uma onda proteccionista iria prejudicar sobretudo os países em vias de desenvolvimento, que seriam inundados com produtos mais baratos e subsidiados.

Além disso, os alertas contra o proteccionismo estenderam-se ao perigo de os Governos ocidentais incentivarem os bancos nacionalizados ou ajudados pelo Estado a investirem capital apenas no próprio país.

Segundo Ferit Sahenk, presidente do grupo turco Dogus, o investimento directo estrangeiro nas economias emergentes caiu já mais de 80 por cento. Uma situação que, para Justin Lin, economista-chefe do Banco Mundial, está já a travar o crescimento dos países em desenvolvimento. A começar pela China.

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, adiantou ontem em Davos que a crise financeira mundial está a ter um "forte impacto" na economia chinesa, sobretudo no emprego e exportações. Ainda assim, adiantou Wen Jiabao, o Governo fixou o objectivo "ambicioso" de que a China cresça oito por cento este ano.

Em África, as perspectivas são mais contidas. Em declarações à Reuters à margem do Fórum Económico Mundial, Donald Kaberuka, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, disse que o crescimento económico no continente vai abrandar para quatro por cento em 2009 e que os planos de relançamento económico nos países desenvolvidos vão comprometer as ajudas prometidas a África.

"Muitas economias emergentes não têm folga fiscal e, por isso, precisam de uma transferência de recursos por parte dos países desenvolvidos", defendeu Justin Lin, apelando a uma acção multilateral e concertada a nível mundial, que ajude tanto os países ricos como os pobres. Esta posição foi, aliás, unânime entre os interlocutores de Davos, que acreditam que só assim a economia poderá sair da crise em que está mergulhada.

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A alegada fraude financeira cometida com uma empresa listada em Londres ascende a 451 milhões de euros.