23.1.09

Famílias portuguesas não pagam crédito ao consumo

Lucília Tiago, in Jornal de Notícias

Deco já abriu nos primeiros dias deste ano 158 processos de apoio a sobreendividados


O crédito de cobrança duvidosa ultrapassou em Novembro a barreira dos três mil milhões de euros. Neste mês a subida mais acentuada do malparado verificou-se no segmento do crédito ao consumo, que aumentou 44 milhões de euros, mais um milhão do que na habitação.

Apesar do total do crédito ao consumo representar pouco mais de 10% do total dos empréstimos à habitação (ver info), o valor do malparado cresceu mais naquele segmento do que na habitação entre Outubro e Novembro. Esta situação vem mais uma vez provar que quando confrontadas com dificuldades para fazer face a todos os empréstimos, as famílias deixam mais facilmente de pagar os que contraíram para adquirir bens de consumo.

Os dados ontem publicados pelo Banco de Portugal mostram que o valor total do malparado ascendia em Novembro a 3,03 mil milhões, enquanto o montante de crédito total concedido a particulares era de 117,3 mil milhões de euros. Na habitação, o crédito de cobrança duvidosa (com um atraso superior a 90 dias) ascendia no final de Novembro a 1,6 mil milhões de euros, tendo crescido 319 milhões face a igual mês de 2007 e 43 milhões em relação ao mês anterior. No segmento do crédito ao consumo, o malparado registou uma subida homóloga de 264 milhões (mais 49,3%) e um aumento mensal de 44 milhões.

Estes dados provam, como referiu ao JN Natália Nunes, do departamento de apoio aos sobreendividados, da Deco, que quando se vêem em dificuldades financeiras "as pessoas deixam primeiro de pagar o cartão de crédito, créditos ao consumo e pessoais". E só em último caso deixam o crédito da casa entrar em incumprimento. "São muitas as pessoas que recorrem a poupanças e a a ajuda de familiares para não deixarem de pagar o empréstimo da casa", referiu aquela jurista.

Depois de em 2008 ter registado um número recorde de abertura de processos de apoio a famílias sobreendividadas, Natália Nunes adiantou ao JN que neste primeiros 20 dias de 2009 a Deco já contabiliza a abertura de mais 158 novos processos - contra 129 em todo o mês de Janeiro de 2008. A estes casos, juntam-se as "centenas de telefonemas já recebidos este ano". Estes números não surpreendem Natália Nunes porque apesar do alívio proporcionado pela descida da Euribor, há muitos particulares com dificuldade em pagar os empréstimos por causa do aumento do desemprego (ler ao lado).

Do lado das empresas, o malparado subiu 139 milhões de euros em apenas um mês e 952 milhões em termos homólogos. Em Novembro, os empréstimos contraídos pelas empresas totalizavam 111,5 mil milhões de euros, enquanto o montante de cobrança duvidosa ascendia a 2,67 mil milhões.

Por sectores, a fatia mais significativa deste crédito está nas empresas de construção (que respondem por 21,9 mil milhões do endividamento), sendo que é também aqui que o malparado é mais expressivo: totaliza 856 milhões de euros, quase o dobro do registado há um ano.