18.1.09

Idosos usam telefone de urgência também para combater solidão

in Diário de Notícias

Sintra. 'Em casa com segurança' dá alarme em caso de emergência


Uma centena de idosos que vivem isolados ou estão depedentes em Sintra estão já a usar um sistema de alarme ligado a uma central durante 24 horas por dia. É o programa "Em casa com segurança" que a autarquia de Sintra disponibiliza à população mais envelhecida. E se o sistema já ajudou a salvar vidas, serve sobretudo para combater a solidão, já que muitos dos idosos aproveitam para conversar um pouco com as operadoras.

O sistema utiliza um intercomunicador, que está ligado ao telefone, e um botão de controlo remoto que pode ser usado num colar, ao peito, ou numa bracelete, no pulso. Um simples toque no botão e o alarme é accionado numa central, onde o atendimento é feito 24 horas por dia.

Eva Ferreira, octogenária é uma das munícipes de Sintra que usufrui do sistema. "Para a solidão isto é muito bom. É que estou aqui uma semana fechada, não batem à porta, o telefone não toca e eu tenho que procurar alguém com quem falar", disse à agência Lusa a idosa, que quase todos os dias activa o dispositivo para recitar, "a quem atende", os seus versos e algumas conversas de ocasião.

A António Reis Marques, chefe de psiquiatria dos Hospitais Universitários de Coimbra, não surpreende esta utilização, por assim dizer, colateral do dispositivo. "A solidão é um problema grave na terceira idade", diz o psiquiatra. "Os filhos saíram e só vão de visita quando podem, os amigos morreram ou já não se deslocam com a mesma facilidade e as pessoas tendem a ficar em casa, muitas vezes numa atitude passiva a ver televisão, não convivem e ficam mais atreitas a problemas físicos e demenciais", explica Reis Marques.

O psiquiatra defende, por isso, uma rede forte de centros de dia - "que não existe em Portugal" -, que possa dinamizar estas pessoas para o convívio com os outros e para actividades diversas e passeios, "como acontece nos países desenvolvidos". A este nível, diz António Marques, "somos um país subdesenvolvido". Por outro lado, muitos destes idosos solitários são também pessoas pobres, sem capacidade económica para procurar alternativas. Na opinião do especialista devia haver também uma linha telefónica específica para o acompanhamento destas pessoas.

Os 92 idosos de Sintra aos quais é oferecido gratuitamente o sistema - destinado a pessoas com fracos recursos financeiros - têm ali também um pouco de companhia. A autarquia quer alargar o serviço, uma vez que no concelho muitos dos 450 mil habitantes são idosos e pessoas com dependência. "Pretendemos alargar o número de pessoas que utilizam este projecto, uma iniciativa que tivemos em 2005 quando fomos confrontados com idosos que viviam isoladamente", disse à Lusa o vereador da câmara de Sintra para a Acção Social, Marco Almeida.