30.1.09

Mais de 2200 Despedimentos anunciados anunciados só este mês

Catarina Almeida Pereira e Maria João Espadinha, in Diário de Notícias

Crise. Os dias em que não são anunciados despedimentos tornaram-se raros. Só este mês, foram conhecidas dezenas de situações que envolvem a destruição de mais de dois mil postos de trabalho. As dificuldades financeiras das empresas ameaçam, por outro lado, mais outras duas mil pessoas


Desde o início do ano, as empresas já anunciaram o despedimento de pelo menos 2178 trabalhadores em Portugal, seja por processos de despedimento colectivo, dispensas de trabalhadores temporários ou rescisões amigáveis. E, segundo as contas do DN, baseadas nas notícias dos principais jornais diários, empresas em dificuldade ameaçam outros dois mil postos de trabalho.

Estes dois mil prováveis despedimentos, referentes apenas a situações tornadas públicas em Janeiro, comparam com os três mil postos de trabalho destruídos por despedimentos colectivos nos primeiros dez meses de 2008 . Segundo dados da Direcção- -Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), os 186 processos concluídos de Janeiro a Outubro do ano passado resultaram no despedimento de 3028 trabalhadores. Nem todos os despedimentos anunciados serão concretizados, mas é razoável admitir que, em crise, o risco sobe.

Automóvel, têxtil e media são os sectores mais afectados por estes processos. É o caso da Peugeot- -Citröen, que vai dispensar cerca de 400 trabalhadores, ou da Silva & Sistelo, empresa têxtil de Rio Tinto cuja falência colocou 150 funcionários no desemprego.

"É verdade que há dificuldades, mas também há um tremendo aproveitamento da situação económica por parte das empresas, que usam a crise como um pretexto jurídico apara avançar para despedimentos", considera Arménio Carlos, da CGTP. "Não creio que seja essa a regra", diz, por seu lado, Basílio Horta. "A crise existe no mundo inteiro. Estamos a assistir a um terramoto em que o sistema económico se desmorona", acrescenta. O presidente da AICEP refere que o caso espanhol da Peugeot-Citroën, em Vigo, lançou para o desemprego, de uma só vez, duas mil pessoas.

Mas há ainda os casos de empresas que enfrentam dificuldades, ameaçando a manutenção do nível de emprego. É o que acontece na Quimonda, cuja falência da casa-mãe, na Alemanha, colocou em risco a viabilidade da fábrica em Portugal e, consequentemente, o emprego de 1150 funcionários. Outro caso emblemático são as Faianças Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, com salários em atraso, que emprega 172 pessoas. No total, estão ameaçados 2072 empregos.

O DN não teve em conta as situações de lay-off ou as paragens de produção, soluções que permitem, por vezes, evitar despedimentos. Este procedimento - incentivado pelos Plano de apoios do Estado - está a ser bastante utilizado no ramo automóvel, com recurso ao banco de horas.

Final feliz?

Há no entanto casos que podem resultar num final feliz. Foi o que aconteceu na Intipor, empresa de confecções, com postos de trabalho ameaçados pela falta de pagamento de salários. Esta semana, a administração da empresa comprometeu-se, perante a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), a pagar os ordenados em atraso aos seus 154 trabalhadores, assim como o subsídio de Natal e de férias do ano passado.