20.1.09

Número de desempregados em Portugal ultrapassa este ano a barreira dos 500 mil pela primeira vez

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A expectativa de uma quebra acentuada do consumo das famílias e do investimento das empresas é o principal motivo para que a Comissão Europeia tenha apresentado ontem previsões económicas muito mais negativas que o Governo e o Banco de Portugal para 2009 e 2010, antecipando para o país a ultrapassagem pela primeira vez na história da barreira do 500 mil desempregados.

Bruxelas apresentou ontem projecções que apontam para uma subida da taxa do desemprego até aos 8,9 por cento em 2009. Isto significa que, se considerarmos, numa hipótese conservadora, que a taxa de actividade se irá manter inalterada em 2009 face ao valor registado no terceiro trimestre do ano passado, o número de desempregados pode subir para 501 mil, o valor mais alto alguma vez registado em Portugal.
Para 2010, a Comissão continua a prever um agravamento da situação do mercado de trabalho, antecipando nova subida da taxa de desemprego para 9,1 por cento, igualando o máximo registado em 1985.

Consumo em queda

O aumento do desemprego previsto por Bruxelas está directamente relacionado com o desempenho económico negativo que antecipa para o país. E por trás da contracção real do PIB de 1,6 por cento prevista pela Comissão para este ano - contra a de 0,8 por cento de Teixeira dos Santos e Constâncio - está principalmente uma visão muito mais pessimista do que vai ser a evolução do consumo privado e do investimento em Portugal.

A Comissão prevê que o consumo das famílias caia 0,2 por cento em 2009, o que representaria o pior resultado desde 1984. O Banco de Portugal, apesar de antecipar um abrandamento neste indicador, aponta para um crescimento de 0,4 por cento. Bruxelas explica que "apesar do apoio que a diminuição das taxas de juro dará ao rendimento disponível das famílias endividadas, as poupanças por precaução devem aumentar nestes tempos de incerteza".

Em relação ao investimento, Bruxelas diz que a quebra será de 5,5 por cento, ao passo que o Banco de Portugal é menos pessimista e fica-se pelos 1,7 por cento. A Comissão explica que o investimento das empresas "deve cair devido às perspectivas de procura mais incertas e às condições de acesso ao crédito mais apertadas".
Este clima de crise entre as famílias e as empresas deve manter-se em 2010, diz a Comissão, o que adia o regresso a taxas de crescimento positivas na economia por mais um ano, ao contrário do que acontece com o resto da zona euro e do que é previsto pelo Governo e Banco de Portugal. Este regresso à divergência pode encontrar explicação no facto de "a posição financeira frágil, que se reflecte nos desequilíbrios externos acumulados, torna a economia portuguesa particularmente sensível" às condicionantes negativas actuais.

No que diz respeito às exportações, as previsões feitas pelas autoridades europeias e nacionais não são muito diferentes. Bruxelas prevê uma redução de 3,8 por cento este ano e o Banco de Portugal de 3,6 por cento. Isto apesar de os primeiros anteciparem uma contracção da economia da zona euro (os principais clientes de Portugal) de dois por cento e os segundos de apenas 0,5 por cento.

A completar umas projecções onde não é possível vislumbrar um indicador positivo, a Comissão Europeia calcula ainda que, pela primeira vez desde que há registo, para além de uma variação negativa real do PIB, Portugal (tal como a zona euro) registará em 2009 uma contracção do valor nominal do PIB. E o Rendimento Nacional Bruto (aproximadamente o PIB menos o saldo dos rendimentos que entram e saem do país) terá, entre 2008 e 2010, três anos consecutivos de declínio.