22.1.09

Quanto maiores são as cidades, mais forte é o desenvolvimento, diz Banco Mundial

Ana Fernandes, in Jornal Público

Na História não há exemplo de desenvolvimento sem que tenha havido uma explosão urbanística e essa regra deve continuar a ser seguida, defende o BM


Durante anos, inúmeros estudos e alertas das agências das Nações Unidas criticaram o ritmo de urbanização do mundo, apontando todas as nefastas consequências que tem: pressão sobre os recursos naturais, acumulação de bairros de lata, uma pobreza gritante. Mas agora, em plena contra-corrente, o Banco Mundial vem incentivar o oposto: as actividades devem concentrar-se nas cidades - é assim que os países progridem.

"Olhem para a História: algum país se desenvolveu sem que as suas cidades tivessem registado um enorme crescimento", perguntam os autores do estudo, dois dos quais estiveram ontem em Lisboa. No seu último relatório sobre o desenvolvimento mundial, a instituição defende, como receita para os países em desenvolvimento, a concentração, o aumento da densidade em determinados espaços geográficos - as urbes como motor.

"Não lutem contra a concentração da actividade económica", disse Truman Packard, acrescentando que "o crescimento económico, pela sua natureza, é desigual, mas são erradas as políticas que tentam disseminar esse crescimento por todo o território, pois a concentração é benéfica e tal não significa que os governos tolerem que haja um desenvolvimento económico e social desigual a nível geográfico".

Parecem conceitos quase incompatíveis. As perguntas saem em catadupa: como é que se compatibiliza a concentração nas cidades e o desenvolvimento do resto do território? Como é que se evita que, ao promover-se a migração, as áreas rurais não fiquem abandonadas à sua sorte? Redistribuindo, respondem simplesmente os autores do estudo. "As cidades gerarão recursos suficientes para assegurar o bem-estar noutras áreas", acreditam.

Riqueza resolverá

Mas à cabeça de todas as questões vem a grande dúvida. Há anos que todos falam dos malefícios da urbanização crescente. Muitas das cidades estão em zonas ecologicamente sensíveis - como zonas costeiras ou estuários -, o ritmo da migração para zonas não planeadas leva a que as pessoas vivam em condições insalubres e a pobreza é muitas vezes gritante e a fome mais aguda.

A resposta é politicamente incorrecta: "Não deixem que as preocupações ambientais impeçam as cidades de crescer porque os recursos que virão com esse crescimento permitirão aos governos promover um melhor planeamento e lidar melhor com os limites das cidades", defendeu Truman Packard, num encontro com os jornalistas.
A receita para o desenvolvimento económico do Banco Mundial, embora gire muito à volta da urbanização, não se esgota nela. O lema é "crescimento desigual, desenvolvimento inclusivo".

Esta aparente contradição seria conseguida através de transformações em três dimensões da geografia económica: densidades mais elevadas através do crescimento das cidades, distâncias menores à medida que trabalhadores e empresas se concentram e menos divisões entre países, diluindo-se as fronteiras económicas e apostando-se na especialização.

Um aspecto fundamental para que esta estratégia funcione é a da integração, desde o nível local ao internacional. Ou seja, os governos devem dar prioridade às ligações entre as zonas desfavorecidas e mais desenvolvidas, o que vai desde os bairros de lata aos países. É claro que esta infra-estruturação fomenta a migração "mas isso já não acontece hoje", questiona Packard.

"As pessoas migram por duas razões: para melhorar a sua vida económica ou para fugir de condições degradantes e os políticos têm que fomentar a primeira razão e evitar a deslocação pela segunda, ou seja, incentivar a ida para as cidades e usando a riqueza aí gerada para melhorar as condições de vida fora delas", explica.

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