29.1.09

Quarenta milhões em risco de perderem o emprego

João Manuel Rocha, in Jornal Público

Número de desempregados pode chegar aos 230 milhões este ano. Leste da Ásia e países desenvolvidos serão os mais afectados


Mau, muito mau, pior. Quarenta milhões de pessoas podem engrossar este ano o número de desempregados no mundo, se se confirmarem os cenários económicos mais negativos, prevê a Organização Internacional do Trabalho (OIT), num relatório ontem divulgado, em que traça três quadros de desenvolvimento da crise.

Na situação mais grave, o número de desempregados subiria para 230 milhões, mais 40 milhões do que as estimativas para 2008 e mais 51 milhões do que em 2007. O valor corresponderia a uma taxa de 7,1 por cento. Em 2007 a OIT contabilizou 179 milhões de desempregados e as estimativas para 2008 rondam os 190 milhões.

Só nas economias desenvolvidas e União Europeia, onde Portugal está incluído, o desemprego poderia, no mais negro dos três cenários em que a OIT trabalhou, atingir oito milhões de pessoas - os 32 milhões estimados para 2008, taxa de 6,4 por cento, passariam a ser 40 milhões, o que equivale a 7,9 por cento.

As projecções para 2009 indicam que só na região leste da Ásia, que abrange países como a China e a Coreia do Sul, o crescimento percentual do desemprego seria maior do que nas chamadas "economias desenvolvidas": 1,7 contra 1,5 no grupo em que está Portugal. Naqueles países, o agravamento da situação pode fazer os números do desemprego saltarem de 32 milhões, igual aos países mais industrializados, para 46 milhões de pessoas.

O mais optimista dos cenários do relatório da OIT - uma organização tripartida em que têm assento governos, patrões e sindicatos - aponta para um aumento global de oito milhões no número de desempregados face ao calculado para o ano passado. A taxa de desemprego atingiria 6,1 por cento, contra os 6,0 estimados para 2008. O cálculo tem em conta a revisão das projecções económicas do Fundo Monetário Internacional feitas em Novembro com base na relação entre crescimento e desemprego no período 1991-2008.

No segundo cenário, que tem em conta a relação histórica entre crescimento e desemprego em tempos de crise, a estabilização dos mercados, o impacto da intervenção estatal e o regresso da confiança aos negócios e aos consumidores seriam mais demoradas do que o previsto em Novembro. Nesse caso, o desemprego subiria para 6,5 por cento, correspondendo a um aumento de 20 milhões de pessoas, quando comparado com as estimativas de 2008.

O quadro mais grave, com o referido aumento de 40 milhões de desempregados, teve em conta a taxa de desemprego de 2008 acrescida da maior variação negativa desde 1991, no caso das economias desenvolvidas e da UE, e metade da maior variação registada nesse período nas outras regiões. Significaria que "o pior impacto na taxa de desemprego se repetiria em simultâneo em todas as economias desenvolvidas", refere o relatório Global Employment Trends.

Mais pobreza extrema

A deterioração da economia empurraria também, no quadro mais complexo, 200 milhões de trabalhadores para a pobreza extrema, a somar aos 610 milhões que, em 2007, já estavam nessa situação. Será esse o resultado, se 20 por cento dos que há dois anos garantiam às suas famílias mais de dois dólares por dia, por pessoa, caírem para baixo deste limiar. O problema afectaria principalmente economias em desenvolvimento. Só no Sul da Ásia, 95 milhões de trabalhadores. No total, 1,4 mil milhões, 45 por cento de toda a força de trabalho mundial, ficaria abaixo dos mínimos.

A população em situação de trabalho vulnerável, com relações laborais informais e sem protecção social, poderá subir drasticamente no cenário mais problemático e atingir 53 por cento dos empregados, ultrapassando os 1,6 mil milhões de trabalhadores.