26.1.09

Situação de miséria de oito famílias de ilha de Francos será discutida hoje

Mariana Pinto, in Jornal Público

Nas oito habitações degradadas de uma ilha na zona de Francos, no Porto, 26 pessoas - sete delas crianças - sobrevivem em condições de miséria extrema. As pequenas casas - nenhuma delas ultrapassa os 20 metros quadrados - estão em estado de degradação completo, têm infiltrações de humidade por todos os lados, fissuras nas paredes a assinalar a queda iminente.

Em algumas, a água da chuva vai entrando, noutras há buracos no chão e nas paredes, escondidos por placas de esferovite e tábuas de madeira. Os ratos "já foram mais", o saneamento não existe e o canal de água que atravessa a ilha torna alarmantes os problemas de higiene e saúde dos habitantes.

Foi este o cenário visitado, ontem de manhã, pelo vereador comunista da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Sá, na véspera do dia em que o Partido Comunista vai levar o tema da habitação social da cidade a debate na assembleia municipal da câmara. "É vergonhoso haver gente a viver nestas condições no Porto do século XXI", dizia Rui Sá durante a visita. A degradação das habitações não é perceptível a quem passa na zona: "O facto de não serem visíveis acentua o problema, que fica esquecido".

A abertura de uma nova rua, prevista no Plano Director Municipal, pode ser uma alavanca para a solução deste problema. "A abertura desta nova rua daria capacidade construtiva ao espaço - o senhorio poderia construir aqui e rentabilizar, ou mesmo vender, o terreno", explicou o vereador comunista aos moradores.

O autarca defende a demolição do espaço e o realojamento destas famílias, que pagam rendas entre os 175 e os 200 euros, a viver em "situação degradante". A política de habitação social da autarquia é alvo de fortes críticas e continua a ser um dos "problemas centrais" da cidade.

"O dr. Rui Rio, que dizia que não conseguia dormir direito quando via pessoas a dormir com ratos, em casas onde chovia, devia lembrar-se que já é presidente da câmara há sete anos e que estas situações continuam a existir na cidade", criticava Rui Sá.

Das sete crianças que vivem na ilha, o PÚBLICO teve acesso a vários relatórios médicos que comprovavam o diagnóstico de pneumonia. E os médicos são peremptórios: enquanto continuarem a viver nas condições actuais - humidade, frio, chuva - o problema vai persistir.

A situação é do conhecimento da Domus Social - empresa municipal que gere o património habitacional da câmara -, a quem os moradores de Francos entregaram, em Janeiro do ano passado, um requerimento para novas habitações. Sem solução até agora. "A semana passada caiu-me uma parede em cima. Vamos tapando os buracos e vamos escondendo a miséria, mas não é possível viver assim", desabafava uma das moradoras. Os habitantes mostram-se cépticos em relação à resolução do problema, mas vão continuar a lutar, mesmo porque, "já aqui, no Bairro de Francos, há várias casas por ocupar", lembrava uma moradora.

Rui Sá recorda a Rui Rio que este já preside à câmara "há sete anos e que estas situações continuam a existir na cidade".