31.1.09

Centenas de britânicos protestam contra contratação de trabalhadores portugueses

Mariana Oliveira, in Jornal Público

Na base das manifestações está contrato de mais de 225 milhões de euros assinado com empresa italiana que emprega portugueses


Uma série de greves espontâneas espalhou-se ontem pelo Reino Unido com centenas de trabalhadores a protestar contra a contratação de mão-de-obra estrangeira. As manifestações começaram depois da Total ter anunciado a assinatura de um contrato de 200 milhões de libras (225,5 milhões de euros) com uma empresa italiana, que emprega trabalhadores italianos e portugueses.

Os operários da refinaria de Lindsey, no centro-este do país, onde as obras vão decorrer, não gostaram da notícia e ontem cumpriram o terceiro dia de greve. Foram apoiados por centenas de "simpatizantes" que vieram de várias partes do país, diz a BBC. Na refinaria de Grangemouth, na Escócia, contabilizavam-se 700 manifestantes e na de Teesside, no Nordeste de Inglaterra, foram mais de 400. Pelo menos 12 fábricas petroquímicas foram afectadas até agora, escreveu o Times online. Nas imagens viam-se bandeiras inglesa e cartazes que citavam uma frase do primeiro-ministro, Gordon Brown: "Empregos britânicos para trabalhadores britânicos".

Os sindicalistas recusam, contudo, que os protestos sejam xenófobos. Bobby Buirds, delegado regional do sindicato Unite, garante que os trabalhadores só querem proteger os seus empregos. "O argumento não é contra os trabalhadores estrangeiros, é contra as companhias estrangeiras que discriminam o trabalho britânico", diz. E acrescenta: "Esta é uma luta pelo trabalho. É uma luta pelo direito a trabalhar no nosso próprio país. Não é de todo um raciocínio racista".

Extremistas infiltrados

No entanto, o Times dá conta que o Partido Nacional Britânico, de extrema-direita, tentou infiltrar activistas nos protestos, tentando influenciar os trabalhadores que estavam zangados com a perda de empregos para os competidores europeus.

Questionado pela comunicação social, um porta-voz do primeiro-ministro britânico adiantou que Brown não se arrependia da frase que disse: "Estamos a pôr em marcha medidas para assegurar que os trabalhadores britânicos tenham acesso às vagas que existem no sistema".

O ministro do Trabalho, Pat McFadden, precisou que o primeiro-ministro nunca prometeu proteccionismo económico ou uma pausa no comércio internacional. "O que ele está a dizer ali é: 'Eu quero ver a força de trabalho britânica preparada para os empregos e as exigências do futuro'", afirmou McFadden à BBC Five.

Paul Elvin, de 49 anos, protesta porque o filho de 19 anos está
desempregado, "enquanto um barco cheio de italianos vem preencher um suposto défice que não existe". "Tenho três bocas para alimentar, uma hipoteca para pagar e perdi ontem o meu emprego. O que é que Gordow Brown vai fazer sobre isso?", questiona.
A Total emitiu ontem um comunicado, onde reconhece a preocupação dos funcionários e garante que os operários contratados através da firma italiana "serão pagos como os restantes trabalhadores do projecto".

Na próxima quinta-feira, os sindicatos têm agendada uma marcha até ao Parlamento, pedindo medidas às autoridades para salvaguardar os empregos britânicos.