22.2.09

Cimeira em formato reduzido procura atenuar tensão política na UE devido à crise

Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público

França, Reino Unido, Itália e Alemanha juntam-se para acertar agulhas contra tentações proteccionistas


Seis países da União Europeia (UE) reúnem-se hoje em Berlim para tentar imprimir um mínimo de coerência aos planos nacionais de estímulo à economia e ultrapassar o mal-estar crescente causado pela acusações cruzadas de proteccionismo.

O encontro, convocado por Angela Merkel, chanceler alemã, envolve os chefes de Estado ou de Governo da França, Reino Unido e Itália, os quatro membros europeus do G20 (formado pelos países mais ricos do mundo e pelas principais economias emergentes), que está a rever o sistema de regulação financeira internacional.

Igualmente presentes estarão a Espanha e a Holanda, que exigiram com grande alarido participar na primeira cimeira do G20, em Novembro, em conjunto com a presidência checa da UE e os presidentes da Comissão Europeia, do Eurogrupo e do Banco Central Europeu.

Inicialmente, o encontro destinava-se a preparar a posição europeia para a cimeira do G20 de 2 de Abril, em Londres, para harmonizar posições em matéria de regulação financeira. Isto, em paralelo com a pretensão franco-alemã de emissão de uma mensagem de firmeza relativamente aos paraísos fiscais e à remuneração dos dirigentes dos bancos.

A agenda foi alargada à estratégia actualmente em estudo na UE relativa à "limpeza" dos activos "tóxicos" dos bancos, na perspectiva da cimeira especial de líderes dos Vinte e Sete convocada para 1 de Março e consagrada à crise económica e financeira.
A turbulência cambial nos países de Leste, a braços com fugas maciças de capitais, impôs-se como mais um tema forte para Berlim, abrindo, possivelmente, o caminho para um plano conjunto da UE a seu favor.

Tudo indica que a tensão das últimas semanas entre alguns países da UE devido aos planos nacionais de estímulo à economia dos mais ricos, em especial as ajudas ao sector automóvel - sobretudo em França -, será num ponto alto das discussões.

Preocupações de Leste
Os países de Leste contam, aliás, preceder a cimeira de 1 de Março de um encontro a sós, no mesmo dia, com Durão Barroso, precisamente para abordar este tema.
Para Mirek Topolanek, primeiro-ministro checo que preside actualmente à UE, Berlim fornecerá a primeira ocasião para se explicar cara a cara com o Presidente francês sobre a polémica que tem oposto os dois países, através da imprensa.

Irritados com as críticas francesas à sua gestão da resposta europeia à crise, os checos acusam Paris de tentar parasitar a sua presidência com iniciativas paralelas, nomeadamente a instituição de um "Governo económico da zona euro", que deixaria a República Checa de fora, por não ser membro da moeda única.

"Estou impaciente para me encontrar com Nicolas", afirmou Topolanek esta semana, em comunicado. "Este encontro porá um fim às especulações mediáticas segundo as quais não conseguimos encontrar um terreno de entendimento", sublinhou. "Temos a nossa dignidade, o nosso orgulho" e se formos postos em causa, "responderemos à letra", avisou por seu lado, Alexandr Vondra, ministro checo responsável pelos assuntos europeus.

6000
milhões de euros é o valor do plano francês de ajuda ao sector automóvel