18.2.09

Desemprego sobe abaixo do previsto mas o pior está para vir

João Manuel Rocha, in Jornal Público

Subida para 7,8 no último trimestre de 2008. No conjunto do ano taxa ficou em 7,6 por cento. José Sócrates optimista, parceiros preocupados


Menos mau do que o previsto, mas o pior pode ainda estar para vir. A taxa de desemprego aumentou uma décima entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, para 7,8 por cento, valor igual ao dos últimos três meses de 2007.
No final do ano estavam desempregadas 437.600 pessoas, um número que representa um aumento de 0,9 por cento em relação ao trimestre anterior, o que corresponde a 3900 pessoas, indicam os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

No conjunto de 2008, a taxa de desemprego foi de 7,6 por cento, o que representa um decréscimo de 0,4 face ao ano anterior. O número final do ano acabou por ficar abaixo dos 7,8 por cento previstos pelo Governo.

Os dados ontem divulgados não reflectem ainda o fecho de empresas e a redução de trabalhadores anunciados no início deste ano, pelo que é previsível um agravamento da situação nas próximas estatísticas.

O agravamento do desemprego entre o terceiro e o quarto trimestres de 2008 deve-se, principalmente, à falta de trabalho de homens, dos que têm entre 15 e 24 anos, dos de 35 a 44 anos, dos que têm como formação até ao ensino básico e secundário, dos que estão à procura de novo emprego e dos que procuram emprego há menos de um ano.
Já em relação ao trimestre homólogo verificou-se uma descida de 0,4 por cento, que representa 1900 pessoas. Esse resultado fica a dever-se em parte à diminuição do número de mulheres sem trabalho em 19.700. No caso dos homens a tendência foi inversa, com o aumento de 17.900.

Tendo em conta todo o ano de 2008, o desemprego afectou 427.100 indivíduos, o que representa uma diminuição de 4,8 por cento face a 2007, quando o número global apurado foi de 448.600 desempregados.

No último trimestre do ano, as taxas mais elevadas foram registadas no Alentejo, com dez por cento da população activa sem trabalho, Norte, com 8,7, e Lisboa, com 8,5. Os valores mais baixos foram os dos Açores, 5,6 por cento, e Centro, com 5,7.
Os números do trimestre não serão mais penalizadores porque se registou uma redução da taxa de actividade, o que pode indiciar uma tendência de saída de pessoas do mercado de trabalho superior ao habitual. Nos três meses finais de 2008 a taxa de actividade caiu 0,4 pontos percentuais face ao período homólogo e 0,2 em relação ao trimestre anterior.

A subida da taxa de desemprego em uma décima face ao trimestre anterior é menos penalizadora do que o estimado na véspera por analistas contactados pela agência Lusa. As previsões anteviam uma evolução para 7,9 por cento ou mesmo 8,1, valores que consideravam ainda assim moderados pelo facto de o mercado de trabalho reagir habitualmente com atraso face ao andamento da actividade económica.

Talvez porque fora criada a expectativa de uma maior subida do desemprego, os dados do INE foram considerados "animadores" pelo primeiro-ministro, José Sócrates, que os encara como um sinal de que, "apesar de tudo, a nossa economia continua a progredir e a criar emprego".

"Não reflectem situação"

O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, não se mostrou surpreendido. Mas também não acha que "os problemas estejam ultrapassados". Considera mesmo "natural que com a quebra da procura internacional e a recessão generalizada haja um risco sério e grave para a manutenção do emprego".

O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, vê nos indicadores do INE "capacidade das empresas para aguentarem o nível de emprego", mas antevê um agravamento da situação. "Depende da continuação do clima recessivo, que poderá agravar um pouco estes números", disse.

O tom das declarações destes responsáveis destoou da generalidade das outras reacções dos meios empresariais e sindicais recolhidas pela Lusa. No campo patronal, o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, Francisco van Zeller, classificou os números como "maus" e considerou "natural" que a taxa "vá aumentar mais". "De qualquer maneira é mau. Uma subida muito acima disso [8 por cento] começaria a ter problemas na Segurança Social", disse.

Arménio Carlos, da comissão executiva da CGTP, lembrou que os números de ontem "ainda não reflectem a situação actual" e "já estão desactualizados", apesar de darem já conta de "um agravamento que irá acentuar-se.

O líder da UGT, João Proença, considera que, no total do ano, o desemprego "ficou um pouco aquém do esperado face ao decréscimo significativo da actividade económica", em boa medida devido ao bom desempenho nos dois primeiros trimestres. "A preocupação é que cresça mais no futuro", disse ainda.