27.2.09

À espera da maior subida do desemprego dos últimos 23 anos

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Portugueses estão assustados com a ameaça do desemprego. Clima económico - em Portugal e na União Europeia - continua a bater mínimos


Desde, pelo menos, 1986 que os portugueses não tinham tanto medo de ver a taxa de desemprego a subir rapidamente. De acordo com o inquérito de confiança divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística e pela Comissão Europeia, a expectativa de aumento do número de desempregados em Portugal atingiu, durante o presente mês de Fevereiro, o valor mais alto alguma vez registado nos últimos 23 anos, o período para o qual foram publicados resultados.

"Como é que espera que o número de pessoas desempregadas varie durante os próximos doze meses?". Esta é a questão colocada em todos os países da União Europeia e a resposta, em Portugal, foi esmagadoramente no sentido da subida. O resultado do indicador em Fevereiro (que resulta da contabilização de respostas que vão de "subida aguda" até "descida aguda") foi de 78 pontos, num máximo de 100 pontos, segundo a Comissão Europeia. Este valor representa uma subida acentuada face aos 67 pontos registados em Janeiro, ultrapassando o anterior máximo de 73 pontos que se tinha registado em Outubro de 1993.

Se na população, a convicção é de que o desemprego vai subir de forma nunca vista, as perguntas feitas aos empresários sobre o que vai acontecer ao emprego dentro de cada uma das empresas mostra um cenário ligeiramente menos pessimista. Na indústria, nas respostas sobre qual a evolução do número de postos de trabalho em cada uma das empresas, o resultado voltou a ser bastante negativo (-31 em Fevereiro contra -30 em Janeiro). Ainda assim, o máximo histórico de -35 pontos em 1993 não foi batido. Nos serviços e na construção, o cenário é em tudo semelhante: o indicador voltou a cair em Fevereiro, mas, mesmo assim, ainda é melhor do que o registado na crise de 2003.

Clima económico afunda-se

O pessimismo em relação ao mercado de trabalho é um dos factores a contribuir para a deterioração do ambiente económico para níveis nunca vistos, tanto em Portugal como na Europa.

O indicador de clima económico português caiu de 65,8 em Janeiro para 61,2 em Fevereiro, voltando, deste modo, a bater o mínimo histórico. Na Zona Euro passou de 67,2 para 65,4 pontos.

Esta continuação da tendência de queda explica-se tanto pelo aumento do pessimismo entre os consumidores como entre os empresários da indústria, serviços, comércio a retalho e construção. Em Portugal, só neste último sector, o indicador de confiança, apesar de ter descido, não se encontra no valor mais baixo desde que há registos.
A quebra da confiança em Portugal e no resto da Europa é mais um indicador claro de que a contracção da economia registada no último trimestre de 2008 pode não ter sido o ponto mais baixo deste ciclo recessivo da economia. Até agora, os indicadores disponíveis para o primeiro trimestre de 2009 fazem adivinhar mais um período muito negativo para a actividade económica.

Para Portugal, o único ponto positivo nos indicadores de confiança ontem divulgados é o facto de os inquiridos mostrarem mais pessimismo em relação à situação geral da economia do que em relação à sua própria situação. Quando se pergunta a um consumidor quais as suas perspectivas para a situação financeira da sua família durante os próximos 12 meses, apesar do resultado estar próximo do mínimo histórico, a verdade é que se tem mantido estável desde o início do ano passado.

Isto pode estar relacionado com o efeito do abrandamento da inflação e da descida das taxas de juro que se têm vindo a registar. No entanto, a reacção dos consumidores perante estas boas notícias, mostra o inquérito de ontem, é o aumento da poupança, que está, dizem os inquiridos, ao nível mais alto de sempre.

a Ontem foi um dia negro para a General Motors (GM). Além de ter anunciado os segundos piores resultados financeiros da sua história (os maiores foram em 2007), a fabricante norte-americana deparou-se com o protesto de milhares de trabalhadores da sua marca Opel. À porta da sede, em Frankfurt, na Alemanha, milhares de funcionários reivindicaram que a GM reveja os seus planos de encerrar fábricas europeias. Este clima conturbado agudizou-se ontem, depois de a GM ter anunciado perdas de 9,6 mil milhões de dólares (cerca de 7,5 mil milhões de euros) no último trimestre do ano passado, empurrando as perdas anuais para os 30,9 mil milhões de dólares. As receitas da fabricante, que até há bem pouco tempo era a maior do mundo, caíram mais de um terço, para os 30,8 mil milhões de dólares em 2008. Nos últimos quatro anos, a GM perdeu 82 mil milhões de dólares e cortou 92 mil postos de trabalho. A.R.F.

61,2
De acordo com os números publicados pela Comissão Europeia, o indicador de clima económico em Portugal caiu em Fevereiro para um novo mínimo, sinal de que a retoma ainda está longe