19.2.09

Miúdos do 'Slumdog' continuam pobres

Luis Miguel Mota, in Destak.pt

Eles não são típicas estrelas de cinema: Azharuddin Mohammed Ismail, 10 anos, vive numa tenda de lona e cobertores; a casa de Rubina Ali, 9 anos, é uma minúscula barraca cor-de-rosa; e os esgotos correm a céu aberto na rua estreita.

Tirados de uma das muitas favelas de Mumbai para actuar no filme nomeado para os Óscares, Quem Quer Ser Bilionário?, eles representam os "verdadeiros milionários" das favelas indianas.

Como o herói do filme - um pobre vendedor de chá que ganha dinheiro e amor na versão indiana do programa Quem Quer Ser Milionário? -, eles também tiveram a hipótese de escapar à pobreza na qual nasceram.

Mas as suas histórias, ainda a decorrer, mostram que as coisas nunca são tão fáceis na vida real.

Os cineastas, que estão a ajudar as crianças, rapidamente descobriram que boas intenções e bolsos cheios de dinheiro não garantem sucesso. Antes pelo contrário.

A fama repentina e a relativa sorte geraram ressentimento dentro das famílias, e com os vizinhos o ambiente deteriorou-se: a pergunta que colocam é a de saber porque é que as suas crianças não foram as escolhidas para os papéis.

A Fox Searchlight já obteve mais de 100 milhões de dólares de lucro, mas a vida das crianças continua tão frágil como antes.

«Ele é supostamente um dos heróis do filme, mas veja em que condições está a viver», diz a mãe de Azharuddin, Shameem Ismail, sentada num banco de madeira podre, à frente da sua tenda. «Isto não é nada».

De acordo com estudos feitos pelo governo da Índia, cerca de 65 milhões de indianos, isto é, quase um quarto da população urbana, vivem nas favelas.

«A maioria destas pessoas estão destinadas a permanecer como e onde estão», afirma Amitabh Kundu, reitor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Jawaharlal em Nova Déli.

Ainda será muito cedo para dizer se Rubina e Azharuddin (Azhar para os amigos) serão a excepção à regra, mas os indícios não são animadores.

Apesar dos responsáveis pelo filme terem inscrito as crianças numa escola, pagarem pelos 30 dias de trabalho, darem às famílias uma pequena ajuda mensal e abrirem poupanças que Rubina e Azhar só poderão usar quando se formarem, a verdade é que continuam a viver em barracas.

Mas há mais: as crianças tiveram que deixar de ir à escola - por causa da multidão de jornalistas que todos os dias os esperava à porta -, e o dinheiro dado pelo produtor do filme, Olson, para que os pais das crianças comprassem uma nova casa "desapareceu"...