29.4.09

Empresas têm de combater a crise com preços mais baixos

João Baptista, in Diário de Notícias

Para resistir à crise e aumentar as vendas, as empresas têm de usar uma agressiva política de preços, defendeu Daniel Bessa. E aconselhou a recrutar vendedores, mas sem criar mais custos fixos.

"É nas vendas que se sente mais a crise e é por aí que os empresários terão de avançar com algumas acções se quiserem resistir", afirmou Daniel Bessa, ontem, nos Encontros Millennium de Santarém.

Com mais de 800 pessoas a assistir à conferência-debate, no auditório do Centro Nacional de Exposições em Santarém, o economista deixou algumas recomenda- ções às empresas para resistirem melhor à crise, que não irá terminar tão cedo.

"As vendas estão a cair, sobretudo nos produtos mais sensíveis, como os bens de investimento apoiados pelo crédito." Mas o sector do comércio alimentar a retalho em Inglaterra aumentou as vendas em 4%, lembrou Daniel Bessa. Como?

"As pessoas estão a fugir aos preços altos e as empresas têm de ir ao encontro dessa tendência." Referiu como exemplo os restaurantes que cobram 30 a 35 euros por refeição e aos quais já não se podia ir todos os dias, agora ainda menos, e que estão a baixar os preços para 10 a 15 euros para conseguirem sobreviver."

Para o ex-ministro da Economia, "as empresas portuguesas terão de combater pelo preço mais baixo".

Daniel Bessa apontou outro tipo de medidas a que os empresários podem deitar mão. "Tenho um amigo fabricante de máquinas que conseguiu competir com a concorrência alemã e italiana, com preços mais baixos, mas quando chegou a concorrência chinesa não conseguiu competir, uma vez que praticava preços 20% acima. Mas não ficou de braços cruzados. Passou a oferecer ao cliente o serviço de apoio pós-venda, garan-tindo a reparação da máquina em caso de avaria, e com isso venceu também a concorrência dos chineses, que não podem prestar aquele serviço", contou Daniel Bessa.

O economista considera que esta poderia ser, assim como já aconteceu com os call-centers, uma nova área de especialização da economia portuguesa, em que as empresas passariam a garantir os serviços de reparações pós-venda.

Insistindo na questão de uma maior agressividade comercial, Daniel Bessa afirmou que o melhor investimento que uma empresa pode fazer neste momento é no aumento da sua força de vendas. "Recrutar vendedores é uma forma de fazer aumentar as vendas, mas não se deve criar custos fixos, pois isso seria mais um passo para o abismo."

Daniel Bessa citou ainda uma recente intervenção de Belmiro de Azevedo, o patrão do grupo Sonae, que considera preferível para um trabalhador receber metade do salário do que ser despedido.

"A redução do tempo de trabalho, acompanhada por uma diminuição do salário, pode ser uma solução para uma empresa que vê cair as vendas e que não pode manter o mesmo volume de produção. Recusar esta solução é o primeiro passo para fechar a empresa e irem todos para casa, sem trabalho", concluiu.