Igreja quer partidos a falar sobre família

Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias

A família serviu de base ao desafio. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa quer que os candidatos às próximas eleições legislativas digam "qual a concepção de política familiar subjacente aos programas eleitorais".

"Seria bom que os candidatos apresentassem propostas reflectidas sobre estas questões, que são mais decisivas para o futuro da sociedade do que muitas outras que ocupam lugares de primazia em agendas partidárias e em primeiras páginas de jornais e noticiários", afirmou D. Jorge Ortiga.

Segundo o presidente da CEP, "é legítimo, é mesmo um dever" que os políticos "atribuam a estas questões o peso que verdadeiramente têm, de modo a que os eleitores possam escolher em consciência, ajuizando sobre tais propostas". E vai mais longe ao afiançar que "é a autenticidade da democracia que está em jogo".

Na intervenção que abriu os trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que decorre em Fátima até quinta-feira, D. Jorge Ortiga falou dos "múltiplos e permanentes ataques" a que a família está sujeita hoje, desafiando os poderes públicos "a executarem uma política que a apoie e promova".

A "banalização do divórcio", refere o arcebispo de Braga, "compromete gravemente a função social da família e é dos mais claros sintomas da sua crise". Admitiu, contudo, que o divórcio ocorre também "por falta de preparação para o casamento".

O presidente da CEP voltou a falar dos casamentos homossexuais e questiona: "Que política familiar poderá conceber um Estado que começa por ignorar o papel social da família e o seu carácter insubstituível e inconfundível?"

Reiterando que o casamento "é a união entre um homem e uma mulher, como sempre foi concebido nas mais variadas épocas", o responsável considera "grave" que se assista "à tentativa de redefinição legal do casamento".

A legalização do aborto, que permitiu "a banalização crescente desse prática", foi outro assunto destacado, com o responsável a considerar "como se revelam agora enganadoras as declarações de que a legalização permitira conter o número dos abortos, através de sistemas de aconselhamento".

D. Jorge Ortiga diz que em inquérito já realizados "a maioria dos casais desejaria ter mais filhos", mas deparam-se com obstáculos como o desemprego, emprego precário e baixos salários.

O presidente da CEP mostrou--se preocupado com o futuro das famílias, já que a crise económica "tende a agravar-se" . "A família é o primeiro sistema de segurança social e este é mais um motivo a justificar o apoio do Estado", sustentou.