20.4.09

"Nada no mundo é 100% fiável", nem mesmo o preservativo

in Jornal de Notícias

O especialista em Sida do Hospital dos Capuchos, Eugénio Teófilo, desvalorizou as declarações do Cardeal Patriarca de Lisboa de que o preservativo é um "meio falível", justificando que "não existe nada que seja 100% fiável".

Questionado pela agência Lusa sobre as declarações de D. José Policarpo que afirmou que o preservativo é falível e que esta opinião que lhe foi transmitida por "responsáveis portugueses" - comungando assim da opinião de Bento XVI de que não deve ser a "única maneira de combate à sida"-, Eugénio Teófilo respondeu: "Penso que não é razão para nos preocuparmos. Em Portugal ninguém deixa de fazer um aborto ou de ser infiel por causa da Igreja".

O especialista perguntou "com que base científica [o Cardeal] afirma que o preservativo é falível", assinalando que "na realidade não existe nenhum método no mundo 100 por cento fiável, tal como não existe nada noutros campos que seja 100 por cento eficaz".

"Quais os métodos alternativos [proposto pelo Cardeal]. A monogamia?", questionou o médico, destacando que "a Igreja tem influência num grupo muito restrito, que partilha os mesmos valores".

Eugénio Teófilo assinalou ainda que "o Cardeal [D.José Policarpo] tem de obedecer a quem manda nele, que é o papa Bento XVI".

O Cardeal Patriarca de Lisboa afirmou hoje em entrevista à agência Lusa que o preservativo é falível.

Esta opinião foi-lhe transmitida por "responsáveis portugueses", adiantando que comunga da opinião de Bento XVI de que não deve ser a "única maneira de combate à sida".

D. José Policarpo, que admitiu ter pensado nesta questão nos últimos dias, disse também ter mantido conversas com "responsáveis portugueses", que não identificou, que lhe confirmaram que o preservativo é um "meio falível".

Trata-se da primeira referência pública à polémica que marcou a visita do Papa aos Camarões e a Angola, em África.

O Cardeal Patriarca lamentou igualmente que a comunicação social tivesse reduzido praticamente toda a viagem à questão do preservativo, que considera ter sido mal abordada pelos media.