29.4.09

Previsões ainda podem ser piores

Fátima Mariano, in Jornal de Notícias

Daniel Bessa está hoje mais pessimista quanto ao desfecho da crise mundial, considerando que a recuperação na Europa não começará antes de Outubro de 2010. Mostra-se também preocupado com uma eventual recessão.

O antigo ministro da Economia falava na 8.ª edição dos Encontros Millennium bcp, em Santarém, perante cerca de 600 pessoas, entre colaboradores e principais clientes desta instituição bancária no distrito. Alertando que não devemos "agravar alarmismos", o economista lembrou que só agora é que as economias não dependentes de sector imobiliário, como é a portuguesa, começam a sentir os reais efeitos da crise. Como exemplo, apontou o incumprimento do pagamento dos empréstimos bancários ou o dos impostos. "Já estive mais optimista sobre o desfecho desta crise. Nas últimas duas semanas, o meu optimismo regrediu bastante", confessou, referindo que as taxas de juro a curto prazo e o mercado de acções, dois dos principais indicadores a ter em conta, "ainda não dão sinais de recuperação". "Todas as previsões que vierem a seguir serão piores", sublinhou.

Perante um cenário destes, o que fazer para que as consequências da crise não se agudizem, foi o desafio que lançou à plateia. Em termos empresariais, Daniel Bessa considera que é imperativo "investir nas vendas, baixar os preços e introduzir flexibilidade em todas as áreas onde for possível, inclusive nas relações de trabalho".

Referindo-se às recentes declarações de Belmiro Azevedo, que causaram alguma polémica, o economista afirmou que defende "a redução do tempo de trabalho". Mas sublinhou: "A flexibilidade tem um preço. É perfeitamente legítimo que se reduza menos a massa salarial do que o tempo de trabalho. Uma coisa é pedir sacrifícios, outra é ser cínico. Eu devo pagar alguma coisa por esse sacrifício".

Quanto às políticas públicas, Daniel Bessa diz-se favorável ao prolongamento do subsídio de desemprego e ao investimento público, em áreas como energias renováveis, banda larga ou construção de barragens. "As grandes obras públicas não devem ser aqui chamadas, uma vez que o seu tempo de execução e de realização de resultados não são suficientemente céleres para resolver o problema", explicou.