22.5.09

Desemprego registado atinge valor mais alto de sempre

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

A anulação da inscrição de desempregados subiu em Abril passado. CGTP exige que essa informação passe a ser divulgada


O desemprego continuou a acelerar em Abril passado. Os 491.635 desempregados registados nos centros de emprego no final desse mês são o valor mais elevado de há 35 anos e que continua a crescer a um ritmo só comparável ao de 2003. O número de inscritos à procura de um novo emprego nunca foi tão elevado e, pela primeira vez, o Estado já contribui para o desemprego.

Apesar das intervenções oficiais sustentando que a recessão pode ter já "batido no fundo", o ritmo do desemprego continua a ser dos mais acentuados da história estatística. O total de desempregados subiu 27,3 por cento face ao mesmo mês de 2008 e continua a acelerar-se.

Em Abril passado, entraram nos centros de emprego mais 61,7 mil novos desempregados. Não é o maior fluxo jamais visto, mas representa um crescimento de 34 por cento face ao de Abril de 2008, embora abaixo do verificado em Março passado - cerca de 50 por cento, o maior salto de sempre.

E se houve um abrandamento na inscrição de novos desempregados, o certo é que o número de desempregados registados à procura de um novo emprego bateu novo recorde. Foram mais 29,2 por cento do que no mesmo mês de 2008, uma variação só comparável à de Julho de 2003 (29 por cento).

Esta evolução ocorre apesar de uma subida pronunciada do número de desempregados cuja inscrição foi anulada pelos centros de emprego. Em Março passado, anularam a inscrição 42 mil desempregados - fosse porque arranjaram emprego, porque se encontram em acções de formação, porque não responderam a convocatórias, etc. Mas em Abril passado a anulação atingiu 53,4 mil desempregados, mais dez mil do que o verificado no mesmo mês de 2008 e apesar de a economia se ter deteriorado.

Em geral, as anulações abrandam quando a economia abranda. Mas não é possível saber exactamente qual a razão para o acréscimo das anulações porque o conselho directivo do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) se recusa a fornecer estes elementos. Ontem, a CGTP - um dos membros do conselho de administração do IEFP - veio exigir que a informação passasse a ser publicada.

O agravamento do desemprego está a coincidir com uma nova descida do peso dos desempregados subsidiados. De acordo com o jornal Diário de Notícias, em Abril passado 319 mil desempregados recebiam subsídio de desemprego ou subsídio social de desemprego, com um valor médio de 464 euros. Ou seja, cerca de 35 por cento do total dos desempregados registados. Nos primeiros três meses de 2009, o peso médio foi de 38 por cento.

O ministro do Trabalho tem contestado esta percentagem. Na sua estimativa, dever-se-iam retirar tanto os jovens à procura do primeiro emprego como os desempregados que perderam o direito ao subsídio. Feitas as contas, a percentagem seria de 80 por cento, uma das mais elevadas da Europa. Mas em Abril passado, descontando os jovens (não há dados publicados do número dos desempregados que perderam direito ao subsídio), verifica-se que a tendência é a mesma - o número dos desempregados apoiados está a descer. À esquerda do Governo, as forças políticas e sindicais enfatizam que essa descida é o outro sinal da precariedade do emprego. "Falsos recibos verdes" que representam uma parte considerável do mercado de trabalho são, formalmente, trabalhadores por conta própria, sem direito ao subsídio.

Indústria continua a cair

O desemprego continua a afectar todos os sectores e ramos de actividade. A indústria transformadora e energia, que foi o sector que começou mais tarde a despedir, é neste momento aquele com um maior ritmo de despedimentos. A subida homóloga foi de 36 por cento, contra 12,4 agricultura e pescas e 21 por cento nos serviços.

A construção é ainda o ramo de actividade industrial que contribui com mais desempregados inscritos (44 por cento do total industrial), seguido do vestuário (19 por cento) e têxtil (10 por cento). Nos serviços, o imobiliário e o comércio contribuem cada um deles com 22 por cento, seguido da restauração e hotelaria com 12 por cento.

Pela primeira vez, em Abril passado, as actividades em geral concentradas no Estado passaram a alimentar o desemprego registado. As 29,6 mil pessoas desempregadas dessas actividades representaram uma subida de 1,4 por cento face ao mesmo mês de 2008.

Por regiões, o Algarve registou o maior aumento homólogo - mais 66 por cento - embora o Norte continue a ser a região que mais contribui com desempregados.