18.6.09

CEP apela à mobilização contra a crise

Octávio Carmo, in Agência Ecclesia

Bispos desafiam católicos a promover alternativas à pobreza, sem depender do Estado


A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu aos católicos do país que se mobilizem contra a crise, promovendo alternativas à pobreza sem estarem dependentes do Estado.

Os Bispos de Portugal estiveram reunidos, de 15 a 18 de Junho de 2009, em Fátima, para participar nas Jornadas Pastorais do Episcopado, este ano sobre o tema "Pastoral sócio-caritativa: Novos problemas, novos caminhos de acção".

As conclusões da iniciativa foram apresentadas esta Quinta-feira, aos jornalistas, por D. Carlos Azevedo. O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social considera que "o fundamental é mobilizar todos".

"Todos têm de ser responsáveis, não é só o governo que pode resolver este problema da crise, têm de ser todos os cidadãos, para que possa haver uma atitude de verdadeira mudança", indicou.

As mudanças passam por questões como a ecologia, a partilha do emprego ou do próprio dinheiro. "Não se trata só de ter instituições ou de acções sociais, mas de mudar a mentalidade", apontou.

Este responsável deixou críticas aos que "estão à espera que a crise passe, para voltar ao que era antes", bem como aos que "pensam que ficarão imunes".

O Bispo Auxiliar de Lisboa defendeu que a mudança deve passar por dentro das comunidades cristãs. Nesse contexto, deu como exemplo a habitual partilha nas Eucaristias, frisando que para muitos esse gesto mais não é do que "desembaraçar-se de uns trocados que têm nos bolsos".

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social assinalou que os cristãos que estão presentes na política, na cultura, na economia "não podem ser iguais" e pediu instituições católicas que não sejam "tão dependentes do Estado" e criem "mais autonomia".

D. Carlos Azevedo admitiu que é necessário ir além da ajuda de emergência, encontrando" meios mais eficazes para a erradicação de pobreza". O prelado lamentou ainda a existência de uma mentalidade que estigmatiza os pobres.

Em tempos de crise, aumentas as solicitações à Igreja, que nem sempre tem meios para lhes responder. O Bispo Auxiliar de Lisboa considera que a solução passa também por pressionar quem "tem de resolver o problema" e "puxar por quem deve resolver os problemas e está instalado no seu lugar".

A igreja, considerou, deve "ajudar as pessoas a bater às portas certas", "encaminhá-las para quem deve resolver os problemas".

As Jornadas Pastorais, em que estiveram presentes delegados de cada uma das dioceses de Portugal, tiveram lugar na sequência da mesma temática do recente Simpósio, realizado em Lisboa, no mês de Maio: «Reinventar a solidariedade, em tempo de crise», no qual participaram mais de mil pessoas, e terá continuidade na Semana Social, a realizar em Aveiro, de 20 a 22 de Novembro, subordinada ao tema: «Construção do bem comum - Responsabilidade da pessoa, da Igreja e do Estado».

Criatividade e pedagogia social

Nas conclusões das Jornadas, a CEP admite que a actual situação exige "inovação e criatividade", lembrando aos católicos que a acção social da Igreja "não é mero suplemento das carências das políticas sociais do Estado".

A Igreja admite envolver mais os leigos com a criação de ministérios "voltados para a caridade" e apela a uma maior coordenação no trabalho realizado aos vários níveis, nacional, diocesano e paroquial.

O documento sublinha a importância da cooperação com o Estado "em campos como a educação, a saúde, o apoio à família, sobretudo os mais carenciados". Uma palavra especial é deixada aos estabelecimentos de acolhimento de jovens em risco, "dada a especial dificuldades dos casos".

Os Bispos defendem a "tarefa urgente de um movimento de pedagogia social", que procura apresentar "um novo paradigma de vida" e fomentar "a comunhão e a partilha entre pessoas e instituições".

A Igreja quer "atender a situações mais extremadas", como os sem-abrigo, as pessoas com deficiências, toxicodependentes, crianças abandonadas pela família, os idosos, as famílias com pessoas "gravemente doentes", a pobreza envergonhada, a precariedade e a mendicidade.

Para a CEP, é necessário "orientar para estilos de vida simples" e "sensibilizar para decisões que preservem a ecologia e incrementem os valores do ambiente e do clima".