23.6.09

Desemprego inscrito em Maio abrandou face ao início de 2009

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

O desemprego registado desceu em Maio face a Abril. Mas ainda é cedo para festejar. O Estado é o único sector a não contribuir para o desemprego


O desemprego continua a crescer a ritmos históricos, mas parece ter abrandado. Só em Maio passado registaram-se nos centros de emprego mais 51.866 desempregados, o que representa uma subida de 21,8 por cento face a Maio de 2008, mas abaixo dos recordes do início do ano.

No final de Maio passado, havia 489.115 desempregados registados, mais 27,6 por cento do que no final de Maio de 2008. Uma subida elevada, embora semelhante à dos últimos dois meses (respectivamente 23,8 e 27,3 por cento), o que poderá criar a expectativa de uma estabilização.

Apesar destes níveis de crescimento, o desemprego registado ficou abaixo do verificado em Abril passado (491.635 desempregados). Só que os centros de emprego anularam, em Maio passado, a inscrição de 59 mil desempregados, um dos valores mais altos de sempre.

De acordo com os valores médios mensais dos últimos seis anos, metade dessa anulação representa auto-emprego, ou seja, os próprios desempregados terão encontrado trabalho. Uma conjuntura mais favorável pode explicar mais anulações. Mas é impossível confirmá-lo, porque o conselho directivo do IEFP se recusa a fornecer indicação das razões por detrás das anulações, alegando que os números anuais são os mais indicados para uma análise de "normalidade". Por outro lado, a anulação pode ocorrer porque o desempregado está em formação profissional, suspendeu a inscrição, emigrou, etc., mas também porque faltou à convocatória dos centros de emprego. Ora, tem crescido o número de desempregados sem subsídio - porque se esgotou o período ou nunca tiveram direito ("falsos recibos verdes" ou jovens). E trata-se de um grupo pouco interessado em manter a inscrição, se convocado ao centro.

Outro elemento que animará os optimistas é a subida do número de ofertas de emprego comunicadas aos centros de emprego (mais 11 por cento face a Maio de 2008) e o de colocações pelos seus serviços (mais 5,4 por cento). Ou de ter abrandado o crescimento do número de pedidos de novo emprego - 33,9 para 21,8 por cento.

Mas os sinais são escassos para se concluir por uma inversão no desemprego. Por sectores de actividade, verifica-se pela primeira vez a manutenção do ritmo de subida do desemprego na indústria e nos serviços. Mas continua a crescer fortemente em termos homólogos, respectivamente 41,8 por cento e de 24,7 por cento, o que dificilmente constitui uma estabilização do desemprego. O fim de trabalho permanente e os despedimentos ainda são as causas de inscrição (a subir mais de 30 por cento). E só as actividades públicas registam uma descida do desemprego face a Maio de 2008.
Finalmente, a análise histórica faz antever que o desemprego registado tende a crescer para lá do início da retoma económica que ainda não se faz sentir. A absorção do desemprego levará alguns anos a verificar-se, se as taxas de crescimento económico forem baixas, como se espera para os próximos dois anos.