25.6.09

Desemprego vai chegar a 650 mil pessoas em 2010

por Catarina Almeida Pereira, in Diário de Notícias

O desemprego deverá chegar aos 10% em Portugal no final deste ano e situar-se nos 11,7% no último trimestre de 2010. A OCDE reviu ontem em forte baixa as previsões para a economia portuguesa, que este ano deverá cair 4,5%, contra a quebra de 3,4% prevista pelo Governo. O próximo ano será ainda de recessão (-0,5%) e de início de uma recuperação lenta.

O desemprego vai afectar 572 mil pessoas em Portugal no final deste ano e 650 mil no último trimestre de 2010. São dados subjacentes às previsões ontem divulgadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, confirmou a OCDE ao DN. A taxa de desemprego vai chegar aos 10% depois das eleições e o novo Governo enfrentará o risco de uma taxa de desemprego estruturalmente elevada.

Depois de um recuo de 4,5% no PIB, a economia portuguesa pode começar a recuperar "gradualmente" no próximo ano, altura em que a quebra será menor (-0,5%). Contudo, depois de acentuadas subidas da taxa de desemprego - a previsão é de 9,6% este ano e 11,2% no próximo, sendo de 11,7% para o final de 2010 - o desemprego pode permanecer estruturalmente elevado, alerta a OCDE no Economic Outlook, ontem divulgado.

"Existe esse risco. O desemprego torna-se de longa duração, as pessoas afastam-se, reduz-se o capital humano e isso leva à subida estrutural do desemprego, mais difícil de absorver", explica Stefano Scarpetta, responsável pela área na OCDE. As previsões a médio prazo apontam para uma taxa de 8% em 2017, em Portugal - abaixo da média projectada para a Zona Euro (9,4%) mas muito acima dos valores historicamente registados pela economia portuguesa.

À quebra de 4,5% no PIB, este ano - que é sobretudo explicada pelo comportamento da procura interna - deverá seguir-se uma contracção de 0,5%, num ano em que uma "fraca recuperação" deverá começar a manifestar-se. "Espera-se que a economia recupere apenas em 2010, suportada pela melhoria das condições financeiras e a procura externa". A OCDE sublinha, contudo, a existência de riscos que podem alterar este cenário: o impacto da crise pode agravar o balanço dos bancos e a deterioração das finanças públicas pode encarecer a dívida pública.

Depois de um período de agravamento da situação orçamental - o défice deverá situar-se em 6,5% neste e no próximo ano, contra os 5,9% previstos pelo Governo - deverá seguir-se uma política de consolidação, defende a OCDE. "Embora o aumento do défice a curto prazo seja sobretudo cíclico, o grande e crescente défice estrutural e a dívida pública mostram que é urgente um plano credível de consolidação orçamental a médio prazo", escrevem os autores do relatório, defendendo ainda a necessidade de "reformas estruturais" que sustentem as projecções de crescimento, combatam o desemprego de longa duração e ajudem à sustentabilidade das finanças públicas.

O agravamento do défice previsto para este ano é em parte explicado pelos programas de estímulo orçamental: as medidas de investimento público, apoio a empresas e exportações e assistência social vão agravar directamente o défice em 0,8% do PIB.

A OCDE espera, para este ano, que a inflação média se mantenha negativa. Os preços deverão cair 0,2% ou 1%, se considerado o deflator do consumo privado.