29.6.09

Falta de transportes exclui

Pedro Antunes Pereira, in Jornal de Notícias

População rural atraída para as urbes fomenta o crescimento de bairros sociais


Os transportes públicos urbanos podem ser um factor de exclusão no concelho de Braga. Este fenómeno já é visível em algumas freguesias mais periféricas. Em tese de doutoramento estão a ser identificados os locais mais problemáticos.

Raimundo Costa tem 80 anos, é viúvo. Em Mire de Tibães é conhecido pela sua boa disposição e pela forte energia. No entanto, desde há cinco anos que a sua vida está a dar algumas voltas. Deixou de conduzir, um pequeno acidente tolheu-lhe a mobilidade e as idas a Braga começam a ser escassas: "vou fazendo as minhas caminhadas e aproveitando as poucas iniciativas que a terra vai tendo". Mas há um factor que Raimundo aponta para que os seus hábitos de vida estejam a ser modificados: "os horários e a quantidade de autocarros aqui para a freguesia não são os melhores. Para dar um passeio até Braga tenho que me levantar às sete e às quatro já estou de volta".

Vítor Ribeiro, investigador no Departamento de Geografia da Universidade do Minho, começa por explicar que "a exclusão social é um fenómeno onde as políticas de transporte têm um papel importante" isto porque "a relação entre a pobreza e os transportes inicia-se com a acessibilidade, uma vez que a exclusão social não deriva da falta de oportunidades mas sim da limitação no acesso, onde a distância assume um papel relevante, quando os custos e o tempo são factor determinante".

A desenvolver uma tese de doutoramento tendo por base os transportes públicos do quadrilátero urbano que deverá identificar problemas e apontar soluções lá para o ano de 2011: "a acessibilidade a diversos serviços, nos ambientes rurais e urbanos, tornou-se problemática, sendo nalguns casos impossível para indivíduos sem acesso automóvel". É este um aspecto da exclusão social: "esta resulta da falta de capacidade das pessoas acederam ao transporte reduzindo ou impossibilitando-as de alcançarem serviços como os de saúde, emprego ou lazer".

Vítor Ribeiro diz que "as oportunidades criadas no quadrilátero urbano estão a gerar uma dualidade de fluxos ao atrair a população residente em meios rurais mais periféricos e ao fomentar o crescimento de bairros sociais". E é aqui que as políticas locais têm um papel importante: "esta dualidade criar espaços descontínuos com dispersão das actividades comerciais e residenciais que implicam maior necessidade de mobilidade da população". Com o acentuar "da deterioração das condições sociais associada à necessidade de percorrer maiores distâncias está-se a criar condições potenciais para ampliar o número de indivíduos afectados pela exclusão social".