22.6.09

Famílias monoparentais aumentam no Alentejo devido ao envelhecimento populacional

Maria Antónia Zacarias, in Jornal Público

Despovoamento do Alentejo devido ao envelhecimento populacional vai continuar nas próximas décadas


O crescimento das famílias monoparentais alentejanas era uma situação que já se verificava no último recenseamento, feito em 2001, mas que tem vindo a acentuar-se, constata Filomena Mendes, investigadora e docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Évora, para quem todas as estatísticas demográficas efectuadas até agora vêm actualizar e confirmar estes dados.

Contudo, segundo o estudo da docente, estas famílias monoparentais não são as típicas resultantes de um divórcio, "são atípicas e constituídas por idosos, ou seja, um pai ou uma mãe idosa e, por norma, viúvos, que vive com um filho também ele idoso viúvo ou divorciado", frisando ser esta situação resultante do envelhecimento da população. "As famílias acabam por sofrer os efeitos da demografia e a questão demográfica influencia toda a sociedade, em particular a constituição dos agregados familiares", sustenta, adiantando termos cada vez mais famílias reduzidas.

A agravar este cenário, Filomena Mendes chama a atenção para o número de imigrantes portugueses que o Alentejo está a receber. "São pessoas em idades avançadas, já reformadas, que regressam do estrangeiro ou da zona de Lisboa e de Setúbal, onde estiveram durante toda a sua vida activa, e que agora vêm contribuir para o aumento da população, mas penalizando-nos em termos de envelhecimento", explica.

No entanto, segundo a investigadora de Évora, a região debate-se com um outro problema igualmente gravoso e que tem a ver com a emigração dos jovens, "particularmente das mulheres em idade fecunda, e isso é dramático em termos demográficos, de constituição das famílias e do aumento do número de filhos".

Filomena Mendes sublinha que o Alentejo confronta-se com uma percentagem bastante elevada de casais só com um filho, sobretudo no caso específico de Évora, sendo poucos os que têm dois filhos.

Para esta investigadora, que tem feito uma previsão demográfica até 2021, o envelhecimento populacional e o despovoamento do Alentejo deverão continuar nas próximas décadas, afirmando mesmo que a inversão deste cenário é impossível. "Não temos hipótese de o reverter nos próximos anos, visto que é uma situação que se instalou há muitos anos com o declínio da fecundidade", sustenta.

Contudo, salientou que este contexto pode ser atenuado, "se forem criadas circunstâncias para que as mães possam ter menos custos directos e indirectos relacionados com o facto de querem ter dois, três ou mais filhos. É preciso ter uma envolvência que lhes permita ter um ambiente social, económico e cultural que permita diminuir esses esforços". De acordo com esta docente, há que promover e incentivar a fecundidade das alentejanas, não apenas no que respeita ao aumento do número de filhos, mas também para que sejam mães mais cedo.