29.6.09

Filhos não devem ir com os pais para o emprego

por Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias

Os psicólogos avisam que levar as crianças para o emprego prejudica os miúdos e afecta a produtividade dos pais. Polémica foi reacesa depois de deputadas europeias levarem filhos para o Parlamento.

Ter os filhos tempo a mais no trabalho pode ser prejudicial. "Depois de duas ou três horas, a criança vai querer atenção. Além disso, os horários das refeições têm de ser respeitados e a mãe ou pai não se consegue concentrar", alerta a consultora de imagem Alexandra Simões de Carvalho. Por isso, o tempo de permanência das crianças no trabalho dos pais não deve ultrapassar uma manhã ou meia tarde, aconselha a especialista.

A discussão em torno da presença dos filhos no local de trabalho entrou na ordem do dia devido aos recentes casos das deputadas europeias que levaram as filhas para o Parlamento (ver caixa). Um problema que se pode intensificar agora com as férias escolares.

Segundo os psicólogos, o excesso de horas no emprego prejudica os filhos, mas também os próprios pais, ao afectar a produtividade destes últimos. "Os filhos são sempre um elemento perturbador. Os pais têm de ter consciência de que o seu rendimento é menor, porque vão estar divididos", alerta Ricardo Vasconcelos, psicólogo do trabalho.

Já o clínico Jorge Gravanita diz que manter os filhos afastados do local de trabalho é "uma questão de higiene mental, de equilíbrio da intimidade e de atenção às questões laborais".

Outro ponto a ter em atenção é o tipo de trabalho que os pais desempenham. "Não vamos levar uma criança para um matadouro, uma agência funerária ou uma central nuclear", exemplifica Ricardo Vasconcelos.

Os especialistas explicam que há duas grandes razões para os filhos acompanharem o pai ou a mãe para um dia de trabalho. A mais comum é por não ter onde se deixar as crianças e ser-se obrigado a levá-los. A segunda é promover um dia especial para conhecer a profissão dos pais. Isto é benéfico para as crianças e até para as empresas que "podem aproveitar a iniciativa para se promover", diz Ricardo Vasconcelos, o professor de Psicologia na Universidade do Porto.

"Se a criança estiver com a mãe, é óptimo", explica Jorge Gravanita. Também Ricardo Vasconcelos diz que "um contacto esporádico com a actividade dos pais pode ajudar os filhos a conhecer melhor os pais". A experiência também é positiva para o crescimento das crianças. "A possibilidade de observar o que os pais fazem é bom porque eles são os primeiros modelos dos filhos", adianta a psicóloga de adolescentes Marina Carvalho. Mas, por norma, os bebés não devem ser levados para o trabalho e só em crianças em idade escolar a hipótese deve ser considerada, alertam os peritos.

Decidir levar o filho para o trabalho pode ter custos na imagem do trabalhador, podendo comprometer a postura de profissionalismo, diz a consultora Alexandra Simões de Carvalho. "Os pais levam a criança para o emprego e deixam de se preocupar com o trabalho e isso tem implicações no resultado final do trabalho", justifica a consultora.

Por isso, fazer-se acompanhar pelos filhos no emprego "só é desculpável em situações de emergência", refere a perita, dando como exemplo quando se está de folga e se é chamado. Totalmente proibido é levar crianças quando se trabalha em contacto directo com o público, diz a consultora.

Alguns clínicos defendem a existência de locais próprios para os pais deixarem os filhos enquanto trabalham. É o caso do professor de Psicologia na Universidade do Porto: "As empresas deviam arranjar uma alternativa para os filhos dos funcionários nos dias em que estes não têm escola."

Mas o psicólogo Jorge Gravanita não concorda: "Ter tudo no trabalho, como creches, pode não ser bom. Estas facilidades servem para diluir fronteiras entre a vida profissional e pessoal e dar a ideia de que se pode fazer tudo."

O advogado do trabalho Joaquim Dionísio sublinha que "as empresas não estão obrigadas a suportar estas situações, porque os pais não podem estar a trabalhar e a ver os filhos ao mesmo tempo". Contudo, este jurista da CGTP nunca teve conhecimento problemas laborais provocado pela presença das crianças.