26.6.09

Igreja abre primeira loja solidária do País

por Carla Aguiar, in Diário de Notícias

Depois da constituição de um fundo para ajudar a combater os efeitos sociais da crise, Patriarcado de Lisboa inaugura amanhã uma loja para necessitados. Roupa, sapatos e móveis são alguns dos bens disponíveis.

"É Dado". Foi este o nome escolhido para a primeira loja solidária da igreja que amanhã abre as portas, em Carnide. Roupas de senhora, homem e criança, assim como sapatos, brinquedos, móveis ou outros equipamentos de utilidade estarão disponíveis para todos os que ali chegarem encaminhados pelos centros paroquiais.

Inserida no projecto "Igreja Solidária" da Diocese do Patriarcado de Lisboa, que pretende dar uma resposta à crise económica, esta loja destina-se a ajudar pessoas necessitadas.

Tal como o nome indica, a loja, na Rua Manuela Porto, n.º 12, procura cruzar quem queira dar com quem precise de receber, sem pagar. Há duas condições apenas: o material doado deve estar em boas condições e quem ali for buscar o que precise deve ser previamente referenciado pelos centros paroquiais, para garantir que os produtos se destinam realmente a quem mais necessita.

Gerida pela Caritas Diocesana de Lisboa, a loja solidária vai disponibilizar, para já, duas toneladas de material, segundo informação prestada pela Caritas. De acordo com o seu presidente, José Frias Gomes, a quantidade do material poderá ir aumentando, à medida que forem evoluindo as ofertas. Os donativos tanto podem partir de particulares como de empresas.

Uma das medidas centrais do projecto "Igre- ja Solidária", anunciado há cerca de dois meses - para amortecer o impac-to social da crise - é a criação de um fundo financeiro destinado a ajudar famílias em dificuldades. Segundo disse ao DN o cónego Francisco Crespo há centros sociais que estão a recorrer ao fundo.

É o caso da sua instituição, o Centro Social Paroquial São Vicente Paulo, como modo de fazer face às dívidas acumuladas de famílias que não podem pagar as mensalidades das creches. "Tenho aqui dívidas de 40 a 50 mil euros de pais que não estão a pagar as mensalidades dos filhos", revela o coordenador do projecto Igreja Solidária. "O que é que eu hei-de fazer? Não posso dizer as pais, que ficaram desempregados, para tirarem daqui as crianças", explica Francisco Crespo.

O padre sublinha que há famílias com dívidas acumuladas desde Setembro do ano passado, mesmo que em causa estejam pagamentos baixos, da ordem dos 20 a 30 euros por mês.

Sobre a evolução do fundo lançado pelo Patriarcado de Lisboa, para o qual todos podem contribuir através de uma conta bancária, Francisco Crespo adiantou que este tem estado a crescer, embora não avance valores. Em meados deste mês, o fundo - que deveria ter arrancado com 175 mil euros - ainda só tinha angariado 65 mil euros.

Essas e outras informações sobre o projecto Igreja Solidária vão passar a estar disponíveis num novo site, que será lançado na próxima semana, disse o cónego. "O objectivo é ter uma ideia actualizada das acções realizadas pelas paróquias, número de pessoas apoiadas e tipos de ajuda". É também uma forma de tornar mais transparente a utilização dos donativos que muitos portugueses estão a fazer para o fundo.

Colocar 300 centros paroquiais a trabalhar em rede é o grande desafio do projecto anunciado em Abril pelo cardeal patriarca D. José Policarpo. O projecto funciona em três níveis, sendo que o primeiro é atender as situações de carência básica como a alimentação, apoio ao pagamento das rendas de casa e de medicação.

A Igreja quer ainda desenvolver com o Ministério do Trabalho e Solidariedade protocolos pa- ra permitir que os beneficiários do subsídio de desemprego tenham possibilidade de trabalhar nas instituições de apoio social.

Numa terceira fase do projecto, o Patriarcado vai desenvolver uma rede de cuidados continuados de saúde, especialmente destinada aos idosos.