18.6.09

Romenos perseguidos na Irlanda do Norte

Jorge Heitor, in Jornal Público

Mais de 100 imigrantes tiveram de deixar as suas casas na cidade de Belfast, desde há anos assinalada como propícia a manifestações de racismo


Mais de 100 romenos que na terça-feira tinham sido obrigados a abandonar as suas casas na área de Lisburn Road, no Sul de Belfast, foram transferidos ontem para o Ozone Leisure Centre, depois da intervenção de entidades religiosas, na sequência de uma série de ataques racistas na últimas duas semanas.

O grupo de duas dezenas de família já passou a noite de terça-feira no pavilhão de uma igreja protestante e a sua situação está agora a ser avaliada entre a vereação da cidade, a polícia e os serviços sociais.

Grupos de homens partiram os vidros das janelas e arrombaram as portas das casas ocupadas por romenos, ameaçando-os com armas.

O vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Martin McGuinness, considerou tratar-se de um "episódio totalmente vergonhoso" na vida de Belfast. "Necessitamos de um esforço colectivo para controlar estes criminosos que há na sociedade e que pretendem claramente atacar mulheres e crianças vulneráveis", acrescentou.

Uma grande parte das famílias romenas afirma não pretender regressar às casas em que habitava e de onde foi escorraçada; e muitas delas declaram mesmo que tencionam deixar o Ulster, devido às manifestações racistas de que têm sido alvo.

A presidente do município, Naomi Longe, afirmou que não pretende ver a comunidade "expulsa de Belfast", pois entende que tem todo o direito de estar ali e faz mesmo parte da cidade.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, juntou-se aos que condenaram os ataques e disse mesmo: "Espero que as autoridades sejam capazes de tomar todas as medidas necessárias para as proteger".

O clima de ódio acentuou-se com o ataque a um comício organizado em apoio aos imigrantes oriundos do Leste europeu. Alguns jovens lançaram garrafas e fizeram a saudação nazi aos que participavam na manifestação contra o racismo.
Os romenos, incluindo uma bebé de cinco dias, refugiaram-se primeiro numa casa que não tinha espaço suficiente para todos eles, pelo que um reverendo, Malcolm Morgan, os levou para um pavilhão da respectiva igreja.

"Não podemos permitir que o racismo se torne o novo sectarismo", depois das antigas divisões entre protestantes e católicos da Irlanda do Norte, comentou o deputado Jeffrey Mark Donaldson, do Partido Democrático Unionista (DUP).

A polícia declarou que vai aumentar as patrulhas, mas não acredita que os ataques aos romenos tenham sido sistematicamente organizados.