25.6.09

UE não consegue falar "a uma só voz" na questão energética

Lurdes Ferreira, in Jornal Público

Especialistas dizem que a Europa soube unir-se para combater a crise, mas não consegue o mesmo num sector que é crítico, como o da energia


A actual crise gerou uma "notável convergência" entre os estados-membros da União Europeia na procura de soluções a nível económico e financeiro, como não acontecia há muito, mas continua a não conseguir falar a uma voz numa questão estratégica como é a energia.

Este foi o tom dominante da conferência "Prioridades Europeias - da Crise Económica à Crise Energética", organizada em parceria pelo PÚBLICO e por The European Strategy Forum (ESF), que se realizou hoje em Lisboa, e teve como oradores principais Peter Ludlow, dirigente do ESF, e Jorge Vasconcelos, presidente da Newes e ex-regulador da Newes.

Para Peter Ludlow, que foi um dos fundadores do CEPS, um think tank de temas europeus com sede em Bruxelas, a UE "colectivamente e separadamente está a gerir bem a crise" dos últimos nove meses. Por outro lado, num mundo cada vez mais multipolar e com os EUA a deixarem gradualmente de ser os líderes do mundo, a UE tem, nos próximos cinco a 10 anos, "uma oportunidade e probabilidade únicas de agir em conjunto como nunca fez no passado, e isso não é por idealismo, mas por ausência de alternativas".

Peter Ludlow diz que há seis pontos consensuais relativamente à convergência a que se assiste na UE, o primeiro dos quais é que, em resposta à crise, os europeus lançaram-se numa enorme mobilização de fundos públicos, percebendo rapidamente que a crise não era apenas financeira.

Mas embora a UE tenha nascido a partir de preocupações energéticas, os tratados em que se baseou nunca se referiram ao tema. "A UE continua a não ter um capítulo específico no seu tratado [de Lisboa] e a não dar uma dimensão comunitária à política energética", afirmou Jorge Vasconcelos.

Na ausência dessa dimensão, a UE continua a falar a várias vozes, o que a impede de iniciar um diálogo concertado com os russos, parceiros determinantes. Do mesmo modo, critica-lhe a falta de atitude por ter "perdido uma janela de oportunidade e não ter tido intuição política para perceber que o início do diálogo com a Rússia, em 2000, era o momento para estabelecer uma relação" no domínio energético.

50%
Hoje, com uma dependência energética externa superior a 50 por cento, a União Europeia tem um "problema económico, por estar exposta à volatilidade dos preços
do petróleo".