27.7.09

Aluguer atenua crise imobiliária

Ana P. Fernandes, Carlos R. Abreu, Jesus Zign e Pedro A. Pereira, in Jornal de Notícias

Vendas em baixa devido às restrições bancárias aocrédito deixam mercado mergulhado em crise profunda


A crise no mercado imobiliário é visível por todo o país e o Norte não escapa. O arrendamento surge como solução, mas as críticas dos promotores imobiliários direccionam-se às instituições bancárias que dificultaram o acesso ao crédito.

O mercado habitacional de Braga já viveu melhores dias, mas vários promotores imobiliários sondados reconhecem que o cenário no resto do país é bem pior. A procura de casa nova é feita, "sobretudo por gente nova que vem trabalhar para a cidade e que optam por morar", começa por dizer um promotor que acrescenta, "mesmo com todos os condicionalismos em termos de empréstimo bancário e ainda que de forma lenta, a venda de casas vai-se fazendo".

Outro promotor dá uma ideia diferente: "uma das coisas que mais tenho notado é o crescente interesse em construção de qualidade, com determinados confortos, e já não tanto aquela ideia de que qualquer coisa serve". O próprio centro da cidade, na sua zona histórica, tem vindo a modificar a face, "porque há pessoas, mais novas e em início de carreira a restaurar casas e a dar vida à zona central".

Os preços são, de resto, razão para que Guimarães fique aquém da procura, em relação a Braga. Rosa Barbosa, de uma imobiliária vimaranense sustenta que "essencialmente quem compra casas novas são investidores que aproveitam a crise para comprar um pouco mais barato". O negócio do imobiliário vive dias difíceis em Guimarães. Apesar da construção de novos edifícios não ter parado, quem procura uma habitação tem optado por arrendar no centro da cidade onde vai rareando a oferta porque também não têm sido construídos novos edifícios. "Zona nobre é na freguesia da Costa, sopé da montanha da Penha. As pessoas procuram ir viver para aí mas assustam-se com os preços", confessou. No cliente tipo que contacta esta agência imobiliária nota-se o desejo de procurar uma habitação com conforto mas sem luxo, já que esta diferença de definição influencia de forma significativa o preço final.

Já no Alto Minho, na melhor das hipóteses, há quem se queixe de estagnação, mas no cenário mais negro fala-se em quebras nas vendas "acima do 60%" só em 2009. Segundo António Brito, o gerente da "Viana Azul", uma agência com actividade no concelho há cerca de 15 anos, tudo são dificuldades nesta época de crise: Há casas para vender mas são "escandalosamente" caras, há procura de habitações para arrendamento mas a oferta é muito pouca e os bancos também não ajudam, com as restrições ao crédito.

"Em 2008 a vendas caíram aí uns 30%, mas 2009 é o diabo", afirma aquele responsável, referindo que "o que ainda segura as imobiliárias é a venda de terrenos". E explica porquê: "Hoje quem tiver um terreno tem acesso ao crédito para auto-construção, porque a grande maioria do crédito que os bancos estão a fazer é para construção própria". De resto, critica: "Começa a haver valores padrão em Viana que são um escândalo. Uma moradia geminada, em média, custa 250 mil euros, seja boa, má, grande ou pequena, não interessa, custa isso".

Fernando Barreto, responsável de uma loja ERA em Viana, fala num decréscimo de vendas de cerca de 30% no presente ano, e atribui esse cenário às dificuldades de acesso ao crédito.

Em Aveiro a crise nota-se desde o primeiro semestre do ano passado, com uma quebra se vendas a atingir hoje os 50 por cento, segundo José Xavier, gerente de uma imobiliária aveirense, mas apesar de tudo os preços dos apartamentos novos com a crise "não baixaram". O mercado dos usados é uma alternativa: o "arrendamento tem uma procura muito grande em relação ao ano passado". "É uma ajuda para enfrentar a crise", refere, frisando que como em outro qualquer sector as imobiliárias se tiveram que redimensionar".

Pedro Pires é taxativo: "o que está a estragar o mercado imobiliário são as instituições bancárias que apertam o crédito". E lembra: "Começa a haver falta de moradias na zona de Aveiro. As que estão nos preços entre os 160mil e os 200 mil euros são escassas". Mas para Elisabete Grave, de uma outra imobiliária aveirense "vende-se menos". "Há excesso de ofertas de apartamentos", frisa, recordando que muitos colegas seus tiveram que dispensar colaboradores. "A crise começou com o corte no bonificado", salienta.