23.7.09

Comércio mundial cairá 10% este ano

Lucília Tiago, in Jornal de Notícias

A retoma do investimento estrangeiro não se sentirá antes de 2011, prevê a UNCTAD, enquanto a OMC estima que o comércio mundial afunde 10% este ano. O proteccionismo preocupa também a organização.

As medidas de contingência, tomadas por alguns países para ajudar as respectivas indústrias a sobreviver à crise são aceitáveis, mas têm de ser usadas com cuidado. Se assim não for, poderão contribuir para aprofundar e prolongar ainda mais esta crise económica global. O aviso é do secretário geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, e surge na sequência dos resultados de um relatório ontem divulgado pela organização.

Manifestando preocupação com o proteccionismo, Pascal Lamy adverte que "há sempre vantagens" mas também "custos" na adopção de medidas de contingência nos movimentos comerciais internacionais. "A Grande Depressão mostrou que usar medidas proteccionistas para enfrentar uma crise global pode, afinal, aprofundar e prolongar essa crise", sublinhou este responsável.

Apesar das regras da OMC permitirem o recurso a medidas de contingência, como a subida de taxas de importação de certos produtos para proteger a indústria local contra preços muito baixos (anti-dumping), o certo é que, se exageradas, essas medidas acabam por restringir o comércio transfronteiriço e ter consequência nocivas.

Neste relatório, a OMC prevê que o comércio mundial, registe este ano uma retracção da ordem dos 10%, sendo que nos países desenvolvidos o recuo será ainda mais expressivo (cerca de 14%). Estes valores representam uma revisão em baixa face às anteriores projecções da Organização Mundial do Comércio, que apontavam para uma quebra geral de 9% e de 10% nas economias desenvolvidas. Ontem, em Singapura, Pascal Lamy acentuou ainda que a recuperação do comércio deverá ser liderada pelos países asiáticos.

Também ontem foi divulgado o inquérito anual das tendências de investimento, promovido pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), onde se conclui que só em 2011 se observará uma "retoma sensível do investimento estrangeiro. De acordo com os resultados obtidos, cerca de 85% das empresas (transnacionais) interrogadas, consideram que o abrandamento económico teve um impacto negativo nas suas intenções de investimento. Em 2008, eram cerca de 40% as que assim pensavam.