28.7.09

FMI prevê que a crise dos cartões de crédito se estenda à Europa

Ana Rita Faria, in Jornal Público

O aumento de desemprego vai fazer aumentar o crédito malparado nos bancos, voltando a ameaçar o sistema financeiro, alerta a instituição internacional


Primeiro foi o colapso dos empréstimos de alto risco, depois de todo o crédito à habitação. Seguiram-se os empréstimos para a compra de automóveis e, agora, corre-se o risco de a dívida de consumo não ser paga, graças ao aumento galopante do desemprego.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a crise dos cartões de crédito, que provocou perdas de milhares de milhões de dólares nos Estados Unidos, está a chegar à Europa e vai fazer disparar o crédito malparado nos bancos do Velho Continente. Um sinal de que a instabilidade poderá não estar tão próxima do fim como se prevê.

Segundo um relatório do FMI, divulgado ontem, cerca de 14 por cento dos 1,9 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) de dívidas dos consumidores norte-americanos não deverão ser recuperados pelos bancos credores. Para a Europa, o cenário é também desolador. Os bancos do velho continente poderão "perder" sete por cento dos 2,4 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros) de dívidas dos consumidores. O grosso dos incumprimentos virá do Reino Unido, país europeu com maior número de titulares de cartões de crédito.

Actualmente, nos Estados Unidos. a taxa de malparado nos cartões de crédito - 10,8 por cento em Junho - já ultrapassou a taxa de desemprego, que está nos 9,5 por cento. Alguns bancos do país, como o Citigroup, o Bank of America, o JP Morgan Chase e o Wells Fargo, bem como a rede de cartões de pagamento American Express, sofreram já perdas de milhares de milhões de dólares nas suas carteiras de cartões de crédito e aguardam novos prejuízos.

No Reino Unido, país europeu que poderá sofrer com mais intensidade a crise dos cartões de crédito, os analistas esperam que a taxa do malparado acompanhe a taxa de desemprego (que está nos 7,6 por cento) e o aumento das falências dos particulares, que atingiram 29.774 no primeiro trimestre deste ano.

Portugal tem sido também afectado pelo aumento do crédito malparado e vários analistas alertaram já que esta subida representa uma ameaça para os resultados dos bancos nacionais. De acordo com o último Boletim Estatístico do Banco de Portugal, o crédito malparado concedido pela banca aos particulares atingiu um novo recorde de 3,45 mil milhões de euros em Maio, mais 33 por cento que em igual mês de 2008.
Este número engloba, contudo, o crédito à habitação, onde o malparado aumentou 30 por cento em Maio, e o crédito ao consumo, onde existem 941 milhões de euros de cobrança duvidosa, mais 49 por cento do que em 2008.

119 milhões
O FMI estima que, na Europa, os bancos não consigam recuperar sete por cento (119 milhões de euros) dos 1,7 mil milhões de dívidas dos consumidores.