2.8.09

Há quem faça voluntariado missionário durante pelo menos um ano

in Jornal Público

Se a maior parte dos voluntários leigos parte por curtos períodos - algumas semanas, um mês -, outros tornam-se missionários pelo menos por um ano. É o caso dos Leigos para o Desenvolvimento (LD), organização ligada aos jesuítas. Por causa do tempo que é pedido, também o processo de formação das pessoas é mais dilatado.

Cristina Seixas, 36 anos, educadora de infância, há muito que se confrontava com a vontade de partir em missão. "A dificuldade era discernir se era um capricho ou a vontade de Deus." No seu caso, a decisão ditou Timor como destino. "Implica um grande desprendimento, deixar a casa, o conforto, a família, os amigos..."

Entre as cerca de 50 organizações que promovem voluntariado missionário - ligadas, na maior parte, a congregações religiosas, paróquias, dioceses, mas também de grupos universitários e associações de solidariedade -, os LD são uma das que investe em tempos de voluntariado mais longos. Em Timor, Cristina irá trabalhar na educação pré-escolar, numa ludoteca e na formação de educadores. E ficará a viver numa pequena comunidade. "Será uma experiência enriquecedora."

Miguel Leitão, 25 anos, do Caramulo, está a terminar o curso de Design em Lisboa e acompanhará Cristina Seixas em Timor - ambos estarão a partir de amanhã em formação específica sobre o projecto, depois de um ano de preparação. Miguel apoiará projectos de introdução da língua portuguesa, animação infantil e juvenil e a ludoteca. O design pode ser uma ferramenta útil. "Dá para desenhar, mexer, experimentar, aplicar projectos que desenvolvi na universidade. Acima de tudo, permite ajudar a que eles próprios possam fazer os seus brinquedos."

A fé teve um peso importante na decisão. "Uma missão assim é sempre difícil, mas Jesus Cristo é uma referência para mim, como estilo de vida. E, se não fosse com os LD, não estaria onde estou: só me consigo encaixar numa organização assim, que não cria novas dependências nas pessoas que apoia."

Sónia Monteiro, 25 anos, de Guimarães, deixará para depois do regresso de Benguela (Angola) o estágio de admissão à Ordem dos Advogados. Com ela, irá Sara Reis, arquitecta, 24 anos, de Lisboa, que se despediu de um gabinete de arquitectura onde tinha começado a trabalhar. "Os projectos dos LD estão bem organizados e têm continuidade", diz Sara. E Sónia acrescenta: "É um tempo para os outros, num sítio e num lugar que não escolhi, como disponibilidade para estar onde é mais necessário".

"É a primeira decisão da minha vida que tomo com a consciência de que Deus esteve comigo", assegura Sónia. "A felicidade está no serviço aos outros. Se eu dissociasse Deus, para mim isto não faria sentido." A.M.