28.9.09

Cáritas contra pobreza envergonhada

Lígia Silveira, in Agência Ecclesia

A Cáritas Portuguesa vai lançar uma campanha de ajuda alimentar destinada aos mais desfavorecidos.

Num protocolo a assinar com a Ticket Restaurante, a Cáritas vai poder contar com a solidariedade dos portugueses que poderão adquirir os tickets, entregar nas Cáritas diocesanas, que os irão canalizar para as pessoas em situação de carência.

O projecto foi explicado à Agência ECCLESIA pelo Presidente deste serviço social da Igreja Católica, Eugénio Fonseca, que sublinha ser uma ajuda às pessoas que têm “mais pudor em expor a situação em que se encontram”, dirigida directamente às “muitas situações de pobreza envergonhada”.

Nos supermercados as pessoas apresentam os tickets, que podem oscilar entre 5 e 15 euros para alimentação. Outra possibilidade é o ticket estar disponível em escolas ou infantários. Nesse caso o montante pode chegar aos 25 euros e os educadores poderão apresentar os tickets para pagamento das mensalidades.

“Esta campanha irá depender da solidariedade dos portugueses”, frisa Eugénio Fonseca. Se a adesão for inexpressiva “ficamos apenas pela criação de iniciativas”, lamenta.

As situações de pobreza envergonhada são as que mais preocupam a Cáritas Portuguesa e as suas congéneres diocesanas e paroquiais. “São muitas a situações que as pessoas escondem e enfrentam sozinhas. Quando desesperam ao ponto de pedir ajuda, muitas vezes já é tarde para as podermos ajudar”, explica o Presidente da Cáritas Portuguesa.

O protocolo será assinado dentro de dias e em marcha está já uma campanha de sensibilização e divulgação do projecto.

Estrelas para os desempregados
A Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa esteve reunida este fim-de-semana em Fátima e decidiu ainda canalizar 35% das verbas a angariar na Operação «10 Milhões de Estrelas – um gesto pela paz» de 2009, para ajudar os desempregados sem protecção oficial. A proposta partiu da Comissão Coordenadora Nacional da operação, que está já a preparar a iniciativa deste ano.

Nos anos anteriores os mesmos 35 % apoiavam projectos em países em vias de desenvolvimento. O restante montante (65%) ficava com as Cáritas diocesanas.

Dado que muitas congéneres diocesanas não têm apoios suficientes para colmatar os problemas sociais com que se deparam, a Cáritas Portuguesa decidiu apoiar as suas congéneres, com excepção das Cáritas Diocesanas de Setúbal e do Porto, que beneficiam do Projecto «País Solidário», promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, e de Braga que é apoiada pela Cruz Vermelha no âmbito do mesmo projecto.

Os 35% serão distribuídos pelas Cáritas diocesanas que fará chegar às pessoas que ficaram no desemprego e não têm “qualquer outro tipo de apoio social”, frisa Eugénio Fonseca. Algumas Cáritas vão destinar também os restantes 65% para ajudar os desempregados. “Estamos a falar, em alguns casos, de 100% de ajuda a desempregados”, indica Eugénio Fonseca.

O resultado da campanha será apenas conhecido em Janeiro ou Fevereiro. O Presidente da Cáritas desvaloriza este facto indicando que “os problemas vão agudizar-se no próximo ano. Basta ver os números de desemprego que estão a aumentar, não a diminuir”.

As pessoas que ficaram desempregadas em 2008 deparam-se agora com o fim dos apoios estatais previstos, nomeadamente, o subsídio de desemprego. “Sem mais alternativas, os problemas sociais vão acentuar-se”.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que no final de 2010 o desemprego em Portugal atinja 650 mil pessoas, cerca de 11,7 % da população.

Eugénio Fonseca chama a atenção para o facto de o número real de desempregados ser superior. “Há muitos que já nem se dirigem ao Centro de Desemprego, porque estão desiludidos”. Enquanto a retoma da economia acontece em alguns países da Europa, “em Portugal tarda em chegar”. Por isso a Cáritas quer “realisticamente e sem pessimismo”, ajudar as pessoas a superar a situação em que se encontram.

O valor da ajuda aos desempregados está dependente do produto da Operação «10 Milhões de Estrelas – um gesto pela paz».