11.9.09

Lançada “task-force” europeia para salvar plano climático no “fio da navalha”

Helena Geraldes, in Público Última Hora

A luta contra as alterações climáticas precisa de um plano para depois de 2012. Mas as divergências entre países ricos e pobres parecem não ter fim e põem o futuro plano climático no “fio da navalha”. Ontem, os Estados Unidos e a Inglaterra manifestaram os seus receios e cinco países europeus lançaram uma “task-force” diplomática para salvar negociações.

Reino Unido, França, Dinamarca, Suécia e Finlândia decidiram intensificar a “diplomacia climática” – mobilizando os seus cerca de 800 embaixadores no mundo - para salvar o plano contra o aquecimento global. Para tal, assinaram uma carta onde apelaram à mobilização e união do mundo para conseguir um acordo climático viável.

“Hoje comprometemo-nos a trabalhar juntos para conseguir um acordo ambicioso em Copenhaga”, conferência da ONU em Dezembro de onde deverá sair o sucessor do Protocolo de Quioto, que expira em 2012, declarou Per Stig Moller, ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros.

“Estamos aqui porque o acordo de Copenhaga está no ‘fio da navalha’”, comentou David Miliband, homólogo britânico de Moller, depois de uma reunião em Copenhaga onde participaram ainda Bernard Kouchner (ministro dos Negócios Estrangeiros francês), Carl Bildt (ministro sueco) e Alexandre Stubb (ministro finlandês).

“À medida que nos aproximamos da conferência de Copenhaga, precisamos acelerar a diplomacia climática global. Foi isso que acordámos fazer nos próximos dias, semanas e meses”, disse Moller. Os ministros vão agora organizar e coordenar os seus contactos para “influenciar os parceiros-chave nas negociações climáticas, incluindo os países em desenvolvimento”. Ontem, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Loekke Rasmussen, chegou à Índia para uma visita de três dias a fim de tentar acelerar as negociações climáticas com o terceiro maior poluidor do planeta.

Os ministros falaram pouco antes de a Comissão Europeia ter anunciado que vai tentar persuadir os países pobres a combaterem as alterações climáticas, disponibilizando entre dois e 15 mil milhões de euros de ajudas anuais até 2020. Kouchner comentou ontem que o sucesso de Copenhaga depende também da vontade dos países ricos de ajudarem verdadeiramente os países pobres.

Lentidão das negociações preocupa Estados Unidos e Inglaterra

Mas o ritmo lento das negociações não deixa antever resultados satisfatórios. Miliband alertou mesmo para o “perigo real” de fracasso em Copenhaga e para a falta de tempo.

Os receios de Miliband encontraram eco nos Estados Unidos. “Vou ser franco: as negociações sobre o clima estão difíceis”, declarou ontem na Câmara dos Representantes o enviado especial norte-americano para as alterações climáticas, Todd Stern. “Precisamos encontrar um meio para aliviar o fosso que separa as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, algo que está no coração dos esforços para encontrar uma solução internacional”, sugeriu Stern.

Os países em desenvolvimento consideram que este é um problema que foi criado pelos países ricos e lembram que a sua prioridade é o combate à pobreza. Já os países desenvolvidos defendem que não devem ser eles sozinhos a suportar o peso do combate porque os países em desenvolvimento estão a tornar-se grandes emissores de gases com efeito de estufa.

Segundo Stern, 97 por cento do aumento das emissões de CO2 (dióxido de carbono) até 2030 será da responsabilidade dos países em desenvolvimento, como a China. Apesar das divergências, há países emergentes – como a China, Índia e Brasil – que já “começam a reconhecer a gravidade do problema, a sua própria vulnerabilidade e a necessidade de uma acção mundial”. “Isto são boas notícias”, considerou. No entanto, devem dar um passo em frente e comprometer-se com a redução significativa das suas emissões.