12.9.09

Recuperação anunciada pela OCDE acompanhada de forma lenta em Portugal

Por Paulo Miguel Madeira, in Jornal Público

O indicador avançado consolida sinais de inversão de ciclo, mas abaixo do desempenho das restantes economias da organização


Portugal acompanha a tendência de recuperação económica global anunciada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e que veio confirmar a inversão de ciclo negativo detectada no mês passado, mas continua a fazê-lo a um ritmo inferior ao da média dos restantes 29 países da organização.

Esta conclusão retira-se a partir dos indicadores avançados da OCDE, cujos valores relativos a Julho foram ontem divulgados. Eles apontam para uma "recuperação económica geral", com sinais mais fortes do que os de Junho, abrangendo a maioria das economias dos 30 países que compõem a organização - que correspondem à generalidade das economias desenvolvidas e também à China, Índia e Rússia.

Para Portugal, o indicador avançado da OCDE subiu para 94 em Julho, face a 93,4 em Junho. Esta subida de 0,6 pontos é substancialmente inferior à que aconteceu no conjunto da OCDE (1,5 pontos, para 97,8) ou na zona euro (1,9 pontos, para 100,5). Esta diferença pode indicar que no futuro a eventual recuperação económica portuguesa será mais lenta do que a dos outros países.

Informação qualitativa

O indicador avançado (composite leading indicator, ou CLI) foi concebido pela OCDE para detectar sinais iniciais de pontos de viragem nos ciclos económicos, dando os seus valores informação apenas qualitativa. Uma variação positiva mas inferior a cem pontos significa que a economia continua a cair, mas de forma mais lenta, sendo aquilo que a organização designa como fase de "recuperação". Será a situação em que estão quase todos os 34 países para que este indicador é calculado - os seus 30 países-membros e as quatro principais economias emergentes, que correspondem aos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

A "recuperação" assim entendida pela OCDE pode ser vista como a de alguém com gripe que continua com sintomas da doença, mas que estão cada vez mais ténues - a febre baixa, as dores diminuem, mas a doença ainda não foi completamente erradicada.

Em Portugal, o indicador de clima tinha atingido um mínimo em Março, quando foi de 92,4, o que marca o início de uma tendência de recuperação de acordo com os critérios da organização. Antes, tinha descido consecutivamente pelo menos desde Setembro de 2007, quando era de 105,6. Mesmo assim, em Julho deste ano ainda estava 7,8 pontos abaixo do seu nível em Julho de 2008.

O indicador relativo ao conjunto da OCDE começou a subir em 92,6 em Fevereiro, tendo começado a subir em Março (96,9), e sempre em aceleração (com variações crescentes). No entanto, em Julho estava ainda 1,9 pontos abaixo do seu nível em Julho do ano passado.

A situação é idêntica na zona euro, mas aqui destacam-se os índices relativos a França e Itália, já em terreno francamente positivo e cuja evolução aponta para uma "possível expansão". Valores crescentes e acima de cem indicam uma expansão da economia; valores decrescentes acima de cem, uma desaceleração; valores decrescentes inferiores a cem, uma contracção, de acordo com a restante classificação da organização.

G7 em recuperação

Os indicadores relativos às sete principais economias da OCDE (o antigo G7) apresentavam também todos uma evolução positiva que sugere uma situação de "recuperação". Para os Estados Unidos, o indicador subiu para 96, avançando 1,6 pontos face a Junho. Mas estava ainda 4,3 pontos abaixo do seu nível em Julho de 2008. Esta baixa homóloga era apenas superada pelas do Japão (-6,6), Brasil (-9,8) e Rússia (-13,6).

A China, a Índia e a Rússia também estavam em recuperação em Julho, sendo a situação no Brasil a de menor dinâmica, tendo sido classificada apenas como de "possível viragem" - o indicador subiu apenas 0,2 pontos face a Junho, e as variações positivas dos últimos três meses são todas desta ordem.

A elaboração deste indicador recorre a componentes que respeitam às fases iniciais dos processos produtivos, respondem rapidamente às mudanças na actividade económica e são sensíveis às expectativas quanto à actividade futura.