16.9.09

"Sopa dos Pobres" de Faro: Empresa confecciona 600 refeições em infantário com capacidade para 80

in Barlavento

Depois da ASAE ter encerrado dia 3 a cozinha da Misericórdia de Faro, a empresa de catering está a confeccionar cerca de 600 refeições para os mais pobres num infantário da cidade com capacidade para apenas 80 refeições.

"É uma situação de emergência", declarou hoje à Agência Lusa António Gomes, da "Serunion", empresa que catering. A esperança é que em breve as obras de remodelação terminem na cozinha da Santa Casa da Misericórdia para que de novo as cozinheiras possam voltar a cozinhar no próprio local.

"De momento, as refeições estão a ser confeccionadas no nosso infantário, junto ao refúgio Aboim Ascensão, e depois são trazidas para o centro social em carros térmicos, explicou por seu turno o provedor da Santa Casa em Faro Candeias Neto, estimando que as obras de canalização, novas pinturas, soalhos anti-derrapantes terminem antes do final deste mês.

As refeições realizadas no Infantário são depois transportadas para distribuir pelos utentes do lar, centro de dia, cuidados continuados, apoio domiciliário, alunos da escola profissional e aos 250 trabalhadores da instituição, explicou o provedor.

A Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) mandou encerrar desde dia 03 o refeitório social da Santa Casa da Misericórdia de Faro, proibindo o funcionamento da cozinha e a confecção de 600 refeições para os mais pobres.

Actualmente, a Santa Casa da Misericórdia estava a servir cerca de "600 refeições" por dia à hora de almoço - compostas por sopa, segundo prato, fruta e bebida -, nomeadamente para o centro de dia, ao domicílio, lares, estudantes, e trabalhadores.

As refeições foram, no entanto, suspensas cabalmente no refeitório social que dava alimento a cerca de 30 de pessoas ligadas à toxicodependência, mas também pessoas com "sinais de fome, uma pobreza muitas vezes envergonhada".

A Santa Casa está a entregar um subsídio de refeição aos 250 trabalhadores daquela instituição, por falta de capacidade para servir-lhes refeições no local.

"É pena que não ponham as pessoas em primeiro lugar", lamentou o provedor Candeias Neto, explicando que a cozinha havia sido alvo de uma "desbaratização um dia antes da visita da ASAE ter encontrado algumas baratas mortas no chão" e ter dado ordem de encerramento.

Sobre as críticas de Candeias Neto à autarquia farense que acusa de demorar oito meses a autorizar a realização de uma obra de melhoria do telhado na Santa Casa da Misericórdia, que se "chover muito corre-se o risco de o telhado desabar antes da autorização”, o presidente da Câmara de Faro José Apolinário afirma que o processo tramitou em três meses.

"A 31 de Março, três meses depois [da entrega do pedido de licenciamento], a Câmara de Faro deferiu o projecto, após vários pareceres de entidades externas, ficando o requerente de entregar os projectos de especialidades ou um termo de responsabilidade de um técnico habilitado", lê-se numa nota de imprensa enviada hoje pela autarquia.

A Lusa tentou obter um comentário da ASAE junto da Direcção Regional do Algarve e na sede em Lisboa, mas até ao momento não foi possível.