30.10.09

Crise abranda mas Portugal arrisca perder comboio europeu

Por Vítor Costa e Paulo Miguel Madeira, in Jornal Público

INE e Bruxelas confirmam melhoria da conjuntura. Moody"s baixa avaliação e alerta que sem reformas Portugal não aproveitará a retoma


Foi um dia de sentimentos diferentes para a economia nacional. Se, por um lado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Comissão Europeia vieram dar notícias que confirmam que a economia nacional e a da zona euro estão a recuperar da actual crise internacional, por outro lado, a agência Moody"s reviu em baixa a avaliação da dívida pública portuguesa de "estável" para "negativa" e deixou um sério alerta para o Governo: sem mais reformas, Portugal poderá não conseguir aproveitar a retoma da economia europeia e, como tal, ficar condenado a um período longo de crescimento económico baixo.

As boas notícias do INE e da Comissão Europeia vieram reforçar uma tendência que já se faz sentir há alguns meses. Por um lado, o indicador de clima económico, que ainda se mantém em terreno negativo, continuou em Outubro a melhoria iniciada em Maio, numa trajectória que é idêntica à revelada, também segundo os dados deste mês, pelo indicador de confiança dos consumidores e pelos indicadores de confiança em todos os principais sectores de actividade. Isto não quer no entanto dizer que a crise tenha passado, pois a actividade continua em quase todos os domínios em níveis substancialmente inferiores aos que se verificavam antes da agudização da crise financeira, há pouco mais de um ano, e da profunda recessão que se lhe seguiu.

Mas não foi apenas de Lisboa que vieram as boas notícias. De Bruxelas, os dados da Comissão Europeia davam conta que a confiança dos empresários e dos consumidores da zona euro não só voltou a subir em Outubro, como atingiu um máximo de 13 meses.

As boas notícias ficaram, contudo, por aqui. Já antes, a agência de notação financeira Moody"s punha alguma água na fervura em relação à recuperação da economia nacional. A nota enviada às redacções, citada pela Lusa, até salientava que "o impacto directo da crise global [passou] largamente ao lado de Portugal, de tal forma que a performance da economia e a deterioração da política orçamental do Governo estiveram em linha ou até melhor que os parceiros da eurozona".

Todavia, a agência que avalia o risco da economia nacional decidiu mudar a avaliação da dívida pública portuguesa de "estável" para "negativa", reflectindo "não só os desafios económicos que o país enfrenta", mas também a "aparente falta de motivação dos decisores políticos para os resolver". A Moody"s defende que a principal dificuldade da economia portuguesa é "o crescimento global que se vai seguir à crise [e que] vai levar a uma dinâmica da dívida seriamente adversa para Portugal". E esta dificuldade ganha ainda novas dimensões, porque, prossegue a Moody"s, "não parece haver uma motivação do Governo para agir".

Perante este cenário, a agência assume que "a principal preocupação" é o "fraco potencial de crescimento", atribuível a uma "falta de vontade dos sucessivos governos para restaurarem a competitividade". Se esta situação não for alterada, "é provável que a tendência de crescimento da economia se mantenha relativamente baixa, limitando a capacidade do Governo para sair deste problema, quando a retoma económica chegar", sublinha a agência.

Em declarações à "Reuters", o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, justificou a descida do outlookcom "a crise económica" e garantiu que "o Governo português está firmemente empenhado" em reduzir o peso da dívida e do défice públicos, assim que a crise estiver ultrapassada.com agências