18.10.09

Relatório coloca Portugal entre os países que menos têm feito para combater a fome no mundo

Por Romana Borja-Santos, in Jornal Público

Portugal é dos países desenvolvidos que menos têm feito para combater a fome no mundo - um problema que em ano de crise económica encontrou terreno fértil e atingiu mais de mil milhões de pessoas. A análise foi feita pela organização não governamental ActionAid por ocasião do Dia Mundial da Fome, com o objectivo de alertar para o facto de um sexto da população mundial não ter comida suficiente e, a cada dez segundos, morrer uma criança com fome.

Mas Portugal - que empatou com a Austrália em 17.º lugar, num total de 22 - não esteve sozinho. Grécia, Canadá, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia são também apontados como os que ficaram mais longe dos objectivos. Já Brasil e China superaram todas as expectativas e são elogiados entre os países em desenvolvimento no relatório divulgado esta semana intitulado "Quem é que está realmente a lutar contra a fome?" Dos desenvolvidos destaca-se Luxemburgo e Finlândia.

O documento dá como exemplo o programa Fome Zero do Presidente Lula da Silva - que reduziu em 73 por cento a má nutrição infantil e em 45 a mortalidade - e a China, por ter reduzido o número de pessoas com fome em 58 milhões em dez anos. Do lado dos "maus alunos" estão os G8 (os países mais ricos do mundo), que deveriam gastar 13,5 mil milhões de euros neste campo em três anos.

Na descrição pormenorizada Portugal conquista, no entanto, alguns lugares consideráveis: é o 5.º país desenvolvido que mais contribuiu para a protecção social e partilha a 5.ª posição com mais 12 países no clima. Ainda assim, as ajudas à agricultura (penúltimo lugar) e à agricultura sustentável (último lugar) acabaram por pesar mais na tabela geral.

Já em Maio a Concord - Confederação Europeia das Plataformas Nacionais de organizações não governamentais de desenvolvimento tinha denunciado que Portugal utilizava as verbas de ajuda pública ao desenvolvimento em promoção da economia nacional, perdão de dívidas, acolhimento de estudantes estrangeiros e refugiados. O que inflacionou a sua contribuição: dos 425 milhões de euros que deu em 2008, só 386 foram reais. As verbas estão a ser direccionadas para sectores não prioritários, deixando por resolver problemas como a fome.