28.11.09

Concelhos da região Norte enchem fundo da tabela

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

Região de Lisboa tem poder aquisitivo 36,9% superior à média nacional e Norte 13,8% abaixo


Os 16 concelhos com menor poder de compra per capita em Portugal estavam, em 2007, situados na região Norte. No topo, Lisboa mantém o primeiro lugar e 235,7 pontos, isto é, 135,7% acima da média nacional.

Se em 2005 era possível isolar apenas sete concelhos nortenhos nas sete últimas posições consecutivas do Indicador per Capita (IpC) do poder de compra, em 2007 o fundo da tabela preenche-se hegemonicamente com 16 concelhos do Norte.

Vinhais (45,88), Ribeira de Pena (46,34) e Sernancelhe (46,95) encabeçam um conjunto de 21 municípios com um IpC que não chega a metade (50) da média nacional (100). Conforme o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) salienta, destes 21, há 15 que se situam no interior Norte, embora não surjam de forma consecutiva no fundo da lista.

Se o concelho de Lisboa está 135% acima da média nacional, o Porto tem um avanço de apenas 70,5%. O curioso é que Lisboa acentuou a sua diferença, uma vez que em 2005 a distância era 116% superior ao país, o mesmo se passando, embora em muito menor grau, com o Porto (64,25% acima da média, há quatro anos). A região da capital está 36,85% acima da média nacional, enquanto que a Grande Lisboa se distancia, positivamente, 47,87% (147,87%). O Norte está 13,7% abaixo da média (em 2005, a diferença negativa era de 14,55%) e o Grande Porto obtém um "score" de 113,59 pontos.

A hegemonia do Sul é ainda verificável pelas pontuações dos municípios da área metropolitana de Lisboa: Oeiras (173,0), Cascais (155,7), Alcochete (144,8), Montijo (137,6) e Almada (121,4). No território metropolitano de Porto as diferenças face à média nacional são menos acentuadas. Neste caso, destacam-se os municípios do Porto (170,5), de São João da Madeira (131,7) e de Matosinhos (127,9).

A Percentagem de Poder de Compra (PPC), indicador derivado do IpC, mostra uma grande concentração de riqueza nas regiões de Lisboa (36,1%) e Norte (30,4%). Para este resultado, contribuíam de forma mais decisiva as subregiões da Grande Lisboa (28%) e do Grande Porto (14%) e ainda a Península de Setúbal (8%). No conjunto, estas três subregiões representavam cerca de metade do poder de compra manifestado no território nacional.

Ao nível municipal, a importância de Lisboa destacava-se de forma clara no contexto nacional ao representar 11% do poder de compra total, enquanto que o Porto se ficava pelos 3,5%, isto é, uma distância de 7,5 pontos percentuais.

Outro indicador trazido com o Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio diz respeito ao Factor Dinamismo Relativo (FDR). Trata-se, no fundo, de verificar quais são as regiões mais sensíveis aos fluxos turísticos sazonais, factor que pode influenciar o poder de compra.

Assim sendo, não é de espantar que o Algarve surja com os mais altos índices de FDR. A título de exemplo, Albufeira tem um FDR de 10,70, o mais alto de todos. Albufeira surge, no indicador de IpC com um "score" de 118 pontos, isto é, 18% acima da média, aparentemente muito devido ao fluxo turístico. Os grandes centros urbanos como Porto ou Lisboa apresentam baixos índices de FDR devido ao elevado poder de compra regular que esbate o impacto dos respectivos fluxos turísticos.

Situação actual é pior face a 2007
José Silva Peneda, ex-presidente da CCDR-Norte

Qual é a sua leitura dos dados do poder de compra concelhio?

A região Norte é definitivamente a mais pobre de Portugal. São dados que não me surpreendem. Estou perfeitamente convencido de que os resultados seriam piores para o Norte se o apuramento fosse feito agora [estatística divulgada ontem diz respeito a 2007].

Como explica a manutenção das assimetrias já verificadas em 2005 e que colocam mal o Norte no retrato?

O Norte de Portugal já foi das regiões mais industrializadas da Europa há cerca de 15 anos. Hoje, a Alemanha está a exportar tecnologia têxtil para a Ásia. Há regiões alemãs que estão a ganhar com a globalização. O facto é que a globalização não afecta as regiões europeias de forma igual.

Há soluções plausíveis ao nível das instituições da União Europeia?

A distribuição dos fundos comunitários devia atender à dinâmica da deslocalização do têxtil. As regiões que mais estão a ganhar com a globalização deviam transferir para as mais afectadas. Tem de haver uma lógica dinâmica. Não nos podemos ficar pelo discurso da solidariedade. Há países do Leste europeu que são mais pobres? É verdade. Mas esses países estão a crescer a taxas muito superiores e o Norte devia ser compensado.

O Norte merece um tratamento diferenciado?

Há que olhar para o Norte de Portugal de forma diferente. Não estamos a falar do Algarve. A região precisa de uma estratégia específica. O problema é que Portugal paga juros altos pela sua dívida externa e esse facto dificultará nos próximos tempos o investimento interno.