21.11.09

Presidente da República evita comentar desemprego e defende aposta na inovação

Por Margarida Gomes, in Jornal Público

Uma vez mais os bons exemplos. Uma vez mais a inovação. O Presidente da República, Cavaco Silva, esteve ontem no distrito de Aveiro para mostrar casos de sucesso de raiz local que podem servir de exemplo a outras regiões do país, mas evitou abordar um dos principais problemas que fustigam o distrito: o desemprego atinge mais de 10 por cento da população activa.

Apesar de estar numa região marcada por empresas em dificuldades, Cavaco preferiu falar de recuperação económica, da necessidade de continuar a apostar na inovação, até porque, disse, "a recuperação económica faz-se, em boa parte, aumentando as nossas exportações".

De regresso aos roteiros, desta vez sobre as Comunidades Locais Inovadoras, destinado à região de Entre o Douro e Vouga, o Presidente iniciou o seu périplo por Ovar com uma visita à fábrica Flex 2000, do Grupo Cordex, que produz espuma e material de cordoaria, emprega 600 trabalhadores, e exporta 70 por cento da sua produção para mercados tão longínquos como Japão, Nova Zelândia e Austrália. A poucos metros deste "bom exemplo", trabalhadores da fábrica de Calçado da Aerosoles concentravam-se junto às instalações no momento em que Cavaco visitava a Flex 2000. Ali ao lado situa-se a YaZaki Saltano, uma fábrica de investimento japonês, de componentes de automóveis que está praticamente sem actividade.

Carlos Pereira, administrador da Córtex, pegou no exemplo da YaZaki Saltano para manifestar o seu descontentamento pela forma como industriais portugueses, que gerem riqueza e dão emprego, são tratados. "Precisamos de ser respeitados", disse, queixando-se das "apertadas regras fiscais" a que os industriais nacionais estão obrigados. "Há 20 anos, a YaZaki Saltano veio para cá como sendo o eldorado e a solução de tudo, e nós éramos a Cordex, uma empresa como hoje somos", declarou, pedindo "um tratamento diferenciado" na questão fiscal. "É uma questão de justiça. Os investidores têm rosto, os japoneses não", declarou.

A resposta do Presidente chegou ao fim do dia, na única declaração que fez aos jornalistas."Portugal precisa de investimento estrangeiro e não acredito que se faça uma discriminação forte entre empresários nacionais e empresários estrangeiros". "Nós não podemos colocar em choque empresários nacionais com os estrangeiros. Os dois devem conviver e penso que é desta forma que conseguiremos ultrapassar as nossas dificuldades", afirmou Cavaco em S. João da Madeira, no final de uma visita ao Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado. Antes, Cavaco tinha visitado a fábrica Cork Supply Portugal e a empresa Deficiprodut, uma empresa em que a maioria dos trabalhadores é deficiente.