30.11.09

"Recuso visão fatalista sobre o Norte"

in Jornal de Notícias

A crise atinge, sobretudo, as empresas exportadoras. A Região Norte continua a ser a mais exportadora do país. Justifica-se a criação de soluções específicas para problemas específicos da região?

Não tenho essa ideia. Se olharmos para o volume de recursos financeiros, para o apoio ao investimento, para o apoio à modernização económica e formação profissional, eles têm uma elevadíssima concentração na Região Norte.

Mas serão os apoios certos? O desemprego continua a disparar, as empresas a fechar...

Infelizmente, o impacto da crise atingiu o país de Norte a Sul. O que se passou em alguns segmentos e territórios mais críticos da Região Norte foi que a crise caiu em cima de um processo de mudança em curso no tecido empresarial. Se a pergunta é se devemos desenhar programas específicos, creio que o país precisa de uma estratégia de desenvolvimento que privilegie a exportação. A recuperação da actividade produtiva e dos serviços exportadores terá, inevitavelmente, um reflexo positivo, e até mais rápido do que noutras regiões, na Região Norte.

O problema do Norte já se colocava antes da crise: maior taxa de desemprego, mais falências...

Mas também alguns factores de dinamismo... Eu conheço bem os problemas do Norte, mas recuso--me a ter uma visão derrotista face ao potencial da região. Temos no Norte alguns dos mais bem sucedidos exemplos de criação, consolidação, afirmação, de pólos universitários com capacidade de ligação à envolvente. Localizámos no Norte o primeiro laboratório internacional do país. Temos no Norte quem está mais à frente na investigação.

O que não temos?

O que não temos é, ainda, a capacidade de fazer a rotação entre a dinâmica criadora de emprego assente em actividades que estão a perder capacidade de afirmação internacional e substituí-la por outra dinâmica. O que é novo ainda não é suficientemente forte.

Não há agentes com capacidade de iniciativa?

No Norte há experiências exportadoras no têxtil e no calçado de grande sucesso. Não construamos em torno da região uma visão fatalista. Precisamos de mais escala. Por isso é tão importante investir nos recursos humanos, nas universidades, na investigação, na criação de "clusters"... O que se passa no sector energético, no calçado, na fileira florestal, já para não falar de outras actividades, como o automóvel.

Estão criadas todas as condições de enquadramento, falta é pegar nelas e levá-las por diante?

Falta termos capacidade de ganhar escala no que de bom fazemos. Grande parte dos desafios que a região defronta são comuns ao país, têm a ver com a insuficiente penetração de factores de inovação e qualificação no sentido lato: das pessoas, das instituições, das empresas...

Mas há muitas coisas a correr mal: as indemnizações compensatórias no metro do Porto, o TGV, o QREN, são coisas que correm mal no Norte e que não são culpa dos agentes do Norte. Acha que o Norte também devia ser mais reivindicativo em relação ao Governo? Há no Norte interlocutores que o façam?

Não sinto falta de capacidade reivindicativa por parte de muitos agentes económicos sediados no Norte. Mas também temos no Norte agentes económicos, sociais e políticos com capacidade de construir, e não apenas de reivindicar. Muitos dos factores que entravam dinâmicas de desenvolvimento necessitam de uma participação dos poderes públicos, mas o essencial tem a ver com as dinâmicas geradas nas regiões.